Livro de poesia “Também guardamos pedras aqui” é o grande vencedor do Prêmio Jabuti 2022. Obra da atriz, poeta e slammer Luiza Romão foi publicada pela editora Nós

A 64ª edição do Prêmio Jabuti, maior e mais aguardada premiação nacional do livro, aconteceu na noite de hoje, dia 24 de novembro, no Theatro Municipal de São Paulo, marcando o retorno presencial da cerimônia, após dois anos em formato online. O evento, promovido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), consagrou “Também guardamos pedras aqui”, da autora Luiza Romão, como o Livro do Ano 2022. Outras obras também foram premiadas em 20 categorias divididas em 4 eixos: Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação. A jornalista Adriana Couto foi a mestre de cerimônias da premiação.

Grande vencedora da noite, a poeta e atriz Luiza Romão receberá a estatueta dourada do Livro do Ano 2022, além do prêmio no valor de R$ 100 mil. A obra, da editora Nós, tem a guerra de Troia como objeto central, a partir do qual as injustiças, crimes e opressões são escancarados aos olhos do leitor.

Além de Livro do Ano, o Jabuti anunciou os ganhadores de cada uma de suas 20 categorias. Os autores premiados receberam a estatueta e o valor de R$ 5 mil. A categoria Livro Brasileiro Publicado no Exterior, que conta com apoio do projeto Brazilian Publishers – uma parceria da CBL com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) -, contempla a casa editorial brasileira com uma Bolsa de Apoio à Tradução no valor de R$ 5 mil, caso a editora seja participante do Brazilian Publishers. Caso a editora brasileira não faça parte do projeto, recebe a filiação completa por 12 meses.

Vitor Tavares, presidente da CBL, comemorou mais uma edição de sucesso do Prêmio Jabuti. – A CBL atua incansavelmente para promover a bibliodiversidade, fortalecer o livro e democratizar o acesso à leitura. E um dado que muito nos orgulha e mostra que estamos no caminho certo é o recorde de inscrições que o Prêmio Jabuti teve este ano. Foram 4.290 obras inscritas, o que significou um aumento de 25% em relação a 2021 — disse ele. Vitor Tavares também destacou a satisfação com o retorno da cerimônia em formato presencial por conta da pandemia de Covid. – Depois desta longa espera, retornamos em grande estilo, no Theatro Municipal de São Paulo, um ícone de cultura, arte e literatura. E justamente no ano em que se comemora os 100 anos da Semana de Arte Moderna.

A noite de festa e premiação teve Sueli Carneiro homenageada como Personalidade Literária de 2022. Um vídeo com vários depoimentos sobre a trajetória de Sueli foi exibido antes que ela subisse ao palco.

– Entre os muitos sonhos que tive na vida, nunca imaginei a possibilidade de ser homenageada por um prêmio como esse. Aqui estou essa noite realizando sonhos não ousados. Essa distinção de personalidade literária acolhe, generosa e solidariamente, não apenas meus escritos, mas sobretudo confere reconhecimento às lutas que empreendemos contra as vivências que pessoas negras experimentam nessa sociedade. Essa homenagem que recebo com orgulho e humildade significa para mim um momento de afirmação e reconhecimento da legitimidade desse lugar de fala e de escrita — agradeceu Sueli Carneiro.

As obras concorrentes foram avaliadas por jurados especialistas em diferentes áreas. Os nomes foram indicados por leitores e integrantes do mercado editorial, validados e complementados pelo Conselho Curador do Prêmio Jabuti, composto por Marcos Marcionilo, Bel Santos-Mayer, Camile Mendrot, Luiz Gonzaga Godoi Trigo e Rodrigo Casarin.

Marcos Marcionilo, curador desta edição do Jabuti, comentou a importância do evento: – Celebrar no Theatro Municipal de São Paulo a 64ª edição do Prêmio Jabuti é reestabelecer o face a face com as instâncias produtoras de arte e cultura em seu suporte escrito. As obras abrem espaço para aquilo que queiramos que venha a ser o Brasil. Longa, muito longa vida ao Prêmio Jabuti — disse Marcionilo. O curador também falou sobre a homenageada da noite: – Saúdo Sueli Carneiro. Em sua figura, a CBL amplia o universo de personalidades literárias futuras, passando a contemplar, além do eixo literatura, também o eixo de não-ficção.

Veja a lista completa dos premiados na 64ª edição do Prêmio Jabuti aqui (Link)

Esta edição do Jabuti celebrou o centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo e teve o grafite urbano presente em toda sua identidade visual. O estilo de arte que expressa a manifestação artística, democrática e mais popular foi impresso através do conceito de diferentes artistas de várias partes do Brasil: Raiz Campos, do Amazonas (Norte); Ciro Schu, de São Paulo (Sudeste); Rafael Jonnier, de Cuiabá (Centro-Oeste), Marcelo Pax, do Rio Grande do Sul (Sul), e Tereza de Quinta e Robézio, representantes do Ceará (Nordeste).

A cerimônia, que foi transmitida ao vivo no canal do Youtube da CBL e, pela primeira vez, no TIKTOK do @premiojabuti, pode ser revista através do link Link

Sobre a autora do Livro do Ano 2022

Luiza Romão nasceu em Ribeirão Preto, em 1992. É poeta, atriz e slammer (quem participa de “batalhas de poesia”) , autora dos livros Sangria (2017) e Coquetel motolove (2014), publicados pelo selo doburro. Em 2020, entrou no mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada (na FFLCH/USP), pesquisando o slam no Brasil. Explora a palavra poética na intersecção com a performance e o cinema.

Sinopse de “Também guardamos pedras aqui”

As pedras de Luiza Romão têm a ver menos com as pedras no bolso de Virginia Woolf, e mais a ver com as pedras jogadas pelos palestinos em Sheikh Jarrah: um ato ao mesmo concreto e simbólico, de autodefesa e resistência ao neocolonialismo. As pedras de Luiza têm mais a ver com a pedra de Drummond, a de João Cabral, a pedra das canções de protesto do Clã Nordestino, de Nina Simone, de Pete Seeger, de Barbara Dane e de Selda Bagcan.

Com “também guardamos pedras aqui”, Luiza Romão consegue inserir momentos de afago e restauro existencial, sem perder uma perspectiva crítica. Isso, em 2021, é tudo que a gente quer: seguir nos aperfeiçoando, nos aprimorando, como seres humanos e sujeitos políticos, e ao mesmo tempo sentir um pouco de prazer, um pouco de alívio, que carreguem nossas de baterias, para que possamos voltar à realidade, prontas para a luta. Um livro para ir redescobrindo, à medida que o ele passa. Não tenho a menor dúvida disso.

A história do Prêmio Jabuti

Realizado desde 1958, o Prêmio Jabuti consolidou-se como a mais importante premiação nacional do livro e é referência no cenário cultural brasileiro. Patrimônio cultural do País, o Prêmio é responsável por reconhecer e divulgar a literatura, as artes e as ciências feitas no Brasil, com a valorização de cada um dos elos que formam a cadeia do livro, sempre em diálogo com os diversos públicos leitores e, junto com eles, assimilando as mudanças da sociedade.