A inauguração do Teatro Ribondi marca uma nova fase para a Casa dos Quatro, homenageando o teatrólogo Alexandre Ribondi, celebrando sua vida e legado. Ribondi vive!

Empreender na cultura, no Brasil e em Brasília, sempre foi dificílimo. Da pandemia para cá, então, ficou quase insustentável. E a capital, já carente de seu Teatro Nacional, assistiu nos últimos anos ao fechamento de dezenas de espaços privados de arte: Cena, Caleidoscópio, Mosaico, Goldoni… Foi no contexto do difícil ano de 2017, pós-golpe e desmonte de políticas culturais, que a Casa dos Quatro abriu. E é agora, no difícil 2024 de pós-pandemia e pós-perda daquele que motivou sua abertura – o teatrólogo Alexandre Ribondi – que a Casa dos Quatro reinaugura. Em nova sede, agora própria, na mesma 708 Norte, e batizando seu novo espaço cênico de Teatro Ribondi. Uma empreitada que o homenageia com inauguração em grande estilo a partir de 1º de março: festa, mostra de cinema, peças de teatro, performances, mostra de esquetes e muito mais marcam a reabertura.

“É o contrário das estatísticas e dos noticiários. É nadar contra a maré, por acreditarmos que só é possível fazer arte na nossa cidade se batalharmos pelo uso de seus espaços, pela transformação destes espaços em casas de arte”, diz o diretor teatral e coordenador da Casa, Rafael Salmona. “Lá atrás, quando abrimos o espaço, transformamos o local onde antes funcionava uma igreja evangélica em teatro. Ou seja, está no DNA da Casa dos Quatro contrariar estatísticas”, lembra o diretor de teatro residente da Casa, professor da Oficina do Ribondi (de iniciação teatral) e fundador do espaço, Morillo Carvalho.

Alagamento e destruição

“No dia 09 de fevereiro, sexta pré-carnaval, estávamos ensaiando e acompanhando as obras no espaço quando caiu aquela tempestade que alagou a Asa Norte. Nosso subsolo, que servia de depósito enquanto as obras ocorrem no térreo, abrigava todo o nosso equipamento de som, de luz, ar-condicionados e arquibancadas. A água veio com tanta força na nossa região que alagou tudo. Oitenta centímetros de altura. Ainda não sabemos o tamanho do nosso prejuízo”, estima Josias Silva, coordenador técnico da C4.

O prejuízo, no entanto, é estimado em R$30 mil reais. Por isso, os dirigentes do espaço abriram uma Vakinha, para tentar remediar o prejuízo. A inauguração, antes prevista para o dia 17 de fevereiro, teve de ser adiada para reparos emergenciais que contenham novas entradas de água e evitem novos alagamentos. Quase a metade do valor já foi alcançada, e a Casa espera reavê-lo na totalidade mesmo após a abertura.

“Precisamos da Casa aberta logo. Ela significa renda para os seus trabalhadores e colaboradores, e cada dia do espaço fechado pesa muito”, lembra Salmona.

Uma casa de formação

Por falar em vocação, um dos fundamentos da existência da Casa dos Quatro é ser espaço de formação artística. Nascido a partir de um diálogo informal entre Alexandre Ribondi e Morillo Carvalho, quando o então aluno do teatrólogo o indagou: “você tem tanto a ensinar, porque não abre sua escola?”. Ribondi rebateu: “você teria coragem?” e, ao ouvir a afirmativa do aluno, encontraram as outras duas parceiras que faltavam para completar os quatro fundadores da Casa. Hoje os dirigentes da Casa são muito mais que os quatro fundadores – hoje apenas Morillo mantém vínculo afetivo, ao manter viva a Oficina do Ribondi, ao lado da diretora Geise Prazeres e da diretora de movimento Irina Buss.

O Teatro Ribondi

“Todos os que hoje dirigem a Casa ou foram alunos do Ribondi, ou foram dirigidos por ele. Ainda que atualmente a Casa abrigue três companhias de teatro e oficinas de estilos diferentes, todos seguimos uma tradição teatral ribondiana”, diz Josias Silva, um dos coordenadores administrativos, que conheceu o diretor na montagem da peça Felicidade, em 2017. “Todos vivemos juntos o luto, ao mesmo tempo em que lidamos com a ausência como se ele estivesse presente, já que parece que ele está ainda aqui conosco, a cada trabalho que levantamos”, completa Morillo.

É por isso que não seria possível construir um novo teatro que não levasse seu nome. O espaço formalmente chamado “Sala Alexandre Ribondi da Casa dos Quatro” será conhecido pela informalidade de seu “nome fantasia”: Teatro Ribondi. A ideia foi do diretor e amigo Tullio Guimarães: “porque será muito simpático dizermos: ‘estou indo ao Ribondi’ ou ‘vamos lá no Ribondi hoje?’, quando formos assistir a um espetáculo”, sugeriu aos dirigentes que prontamente acataram a homenagem.

A Inauguração

Com extensa programação de 10 dias, a nova C4 será para todes: de bebês a centenários, da música ao teatro e à literatura!

1º DE MARÇO

19H – PAI NOSSO | OS GRANDES EXIBIDOS | FESTINHA

“Pai Nosso” é uma cena premiada em dois dos festivais de cenas do DF – o FestCaras e o ¼ de Cena, e terá apresentação especial na reinauguração da C4. A programação segue com “Exibidos” – a grande mostra de alunos da C4, que ocorre trimestralmente, e sendo o espaço de formação que é, a Casa dos Quatro não poderia abrir de forma melhor: expondo o melhor de sua produção. Por fim: festinha! Comidinhas, bebidinhas, encontro e alegria pós-carnaval (ainda há ressaca disponível aí ou prontes pra outra?).

2 DE MARÇO

9H – AULÃO INFANTOJUVENIL

Luís Carrier ministra uma demonstração de seu trabalho para crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos, de graça, no Teatro Ribondi.

14H – AULÃO ADULTO

Os professores das oficinas adultas darão aula de interpretação teatral no primeiro sábado de atividades da C4. É de graça, aberto a todos os alunos e à comunidade que queira conhecer os métodos e descobrir o universo do teatro.

20H – ESPETÁCULO – DICIONÁRIO DAS COISAS QUE NUNCA EXISTIRAM (DE ALEXANDRE RIBONDI)

“Dicionário das Coisas que Nunca Existiram” é um espetáculo de Alexandre Ribondi que tem como temas: violência contra a mulher, abandono parental, etarismo, capacitismo… Conta uma história aparentemente simples: uma mãe, já velha, senil, passa a noite com o seu filho. Mas como nada é realmente simples, ele diz ser o filho dela e ela tem certeza que tem uma filha e que não o reconhece. Ela, incapaz de se lembrar dos fatos. Ele, incapaz de ter paciência com a mãe. Ela quer a cadela dela de volta. Ele quer mandar a mãe para o asilo. E nesse complicado emaranhado familiar que se desenvolve a peça, interpretada por Helen Cris e Morillo Carvalho.

3 DE MARÇO

11H – O CONCERTO – PALHAÇARIA PARA BEBÊS – COM PALHAÇO ZAMBELÊ (JOSÉ REGINO)

O palhaço Zambelê é um andarilho solitário que, brincando com objetos encontrados, descobre novas possibilidades de se relacionar com os outros, compartilhando suas descobertas. Seu grande momento é, quando percebe que pode manipular o som criando ritmos e melodias. Daí seu próximo passo não poderia ser outro, fazer um concerto, executando uma música coletivamente. “O Concerto – Palhaçaria para Bebês” é o quinto espetáculo criado por José Regino, especialmente para os pequeninos, resultado das suas pesquisas como Palhaço e Diretor de Teatro. Mestre em Artes pela Universidade de Brasília, nesses últimos 12 anos, vem criando espetáculos em diferentes linguagens voltados aos bebês de 6 meses a 5 anos de idade. Para José Regino, “um espetáculo para bebês é, antes de mais nada, um compartilhamento de experiências de vida transformadas em arte”.

14H – MOSTRA DE CINEMA – CINE CHANCHADA

Idealizada pelos cineastas Paola Veiga e Rodrigo Peres, o Cine Chanchada é uma mostra de cinema que tem como objetivo difundir e fortalecer o cenário artístico audiovisual do DF. A Mostra estará de volta com a exibição do filme Manual da Pós Verdade, de Thiago Foresti, e a estreia e exibição de dois curtas metragens realizados por alunos da Casa dos Quatro no ano de 2022.

20H – ESPETÁCULO – DICIONÁRIO DAS COISAS QUE NUNCA EXISTIRAM (DE ALEXANDRE RIBONDI)

“Dicionário das Coisas que Nunca Existiram” é um espetáculo de Alexandre Ribondi que tem como temas: violência contra a mulher, abandono parental, etarismo, capacitismo… Conta uma história aparentemente simples: uma mãe, já velha, senil, passa a noite com o seu filho. Mas como nada é realmente simples, ele diz ser o filho dela e ela tem certeza que tem uma filha e que não o reconhece. Ela, incapaz de se lembrar dos fatos. Ele, incapaz de ter paciência com a mãe. Ela quer a cadela dela de volta. Ele quer mandar a mãe para o asilo. E nesse complicado emaranhado familiar que se desenvolve a peça, interpretada por Helen Cris e Morillo Carvalho.

4 E 5 DE MARÇO

20H – CICLO DE LEITURAS – ALEXANDRE RIBONDI

04 – Azul da Prússia: Um morador de rua conversa com um jovem perdido. O ambiente: uma noite numa parada de ônibus qualquer de Brasília. O assunto: memórias da ditadura militar. Assim funciona “Azul da Prússia”

05 – Tiros na catedral: Julieta, uma mulher bem-sucedida, chega em casa após o velório do marido, aparentemente vítima de uma bala perdida. Ao abrir a porta, quem ela encontra sentado no sofá à sua espera? O morto.

5 DE MARÇO

19H – IMPROVIZOANDO

Começam as aulas do curso de improviso do Improvizoando! A aula inaugural é gratuita e aberta à comunidade. Uma oportunidade INCRÍVEL de conhecer o método de comédia mais engraçado do mundo!

06 DE MARÇO

20H – ESPETÁCULO – QUERO SER IGUAL A ELES – ZÉ REGINO

Após ser abandonado por todos do circo – os artistas que ele tanto admirava – o palhaço Zambelê, que trabalha como contra regra e assistente de picadeiro, se vê desempregado, obrigado a sair de cena e seguir seu caminho solitário. Com a ajuda de voluntários da plateia, ele descobre novas possibilidades, reconhecendo que não precisa ser igual a eles. Precisa ser único! Apenas ser ele mesmo. No espetáculo, José Regino faz uma homenagem aos palhaços que influenciaram a sua trajetória nos últimos anos, recriando gags e idéias utilizadas por profissionais como Tortel Poltrona, Luiz Carlos Vasconcelos, Leris Colombaione, Márcio Libar, Lis Nobre, entre tantos maravilhosos palhaços que compõem a sua galeria. Na montagem, Zé Regino desconstrói a ideia de espetacularidade que envolve a realização dos números circenses e brinca com a necessidade que o mundo contemporâneo impõe às pessoas de serem originais, utilizando o erro como fonte de criação de situações inusitadas. O espetáculo é resultado da pesquisa de mestrado do ator, diretor e palhaço José Regino sobre “A Dramaturgia de uma Atuação Cômica”.

07 DE MARÇO

20H – ESPETÁCULO – DEMOS (LUCA LIMA)

Escrito, dirigido e encenado pelo artista brasiliense Luca Lima, o espetáculo DEMOS marca o início de sua pesquisa em solo-performance e vem sendo apresentado em diferentes versões e formatos desde 2018. O monólogo de 40 minutos surpreende o público com reflexões sobre o momento em que vivemos e as atitudes humanas sem clichês ou divagações enfadonhas; mas de forma contundente, bem-humorada, criativa e leve. “Demos é uma fala-fluxo, uma fala-rio, que inunda, encharca, se estreita e se expande e deságua, por fim. Um corpo inaugura essa fala atormentado por uma sociedade à beira do colapso. Esse discurso – por assim dizer – não pretende responder a nada mas, como os peixes, mergulhar fundo quando as correntezas se mostrarem perigosas”, contextualiza o artista. Luca Lima é solo performer que investiga as inquietações poéticas por meio da cena. É um estudioso das práxis do “Teatro Essencial” desde adolescente e estudante de graduação em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília (UnB).

08 DE MARÇO

20H – HOMENAGEM A CLÁUDIO FALCÃO – COM RUTH GUIMARÃES

Um dos artistas mais queridos da cidade, Cláudio Falcão deu vida a três personagens que marcaram uma geração de apreciadores do humor brasiliense: Berenice, Goreth e Mary Help. A saudade do artista será celebrada com homenagem de sua mãe, a veterana atriz Ruth Guimarães. Imperdível!

09 E 10 DE MARÇO

20H – ESPETÁCULO – PROIBIDO AMAR (COLETIVO LEVANTE)

Após um vírus contaminar 33% da população humana, o Estado, que exerce grande poder sobre a sociedade, opta por separar todas as vítimas e pessoas em zona de risco em quarentena. Segundo os organizadores, os segregados passariam por uma bateria de exames para saber se estão ou não aptos para viver em sociedade.

O vírus, que se alastra rapidamente pela sociedade, transmitido pelo toque e por relações sexuais, remete ao HIV e as punições e acusações previstas para seus portadores direcionam a temática da peça para a discussão sobre o preconceito contra LGBTs e a desinformação. Ares, Eros e Apolo são as vítimas e levam ao público a importante reflexão sobre amor e convívio em sociedade.

A última vez que o espetáculo entrou em cartaz foi em São Paulo, onde ganhou 3 prêmios CENYM – Melhor texto original, Melhor qualidade artística de produção e Melhor cartaz de publicidade.

14 E 15 DE MARÇO

CICLO DE LEITURAS – ALEXANDRE RIBONDI

14 – Virilhas: Um homem, comandado por uma paixão, consegue levar o amado para dentro de um apartamento. Joga fora o celular e esconde a chave da porta. Por quase uma semana, busca um resposta: “por que você me deixou?”. A questão principal de Virilhas, peça do escritor, dramaturgo, jornalista e diretor Alexandre Ribondi, é afirmar que uma pessoa tem todo o direito de sair de um relacionamento. Mas a outra pessoa tem todo o direito de fazer de tudo para impedir a partida.

15 – O Homem de Buenos Aires: uma comédia impressionante que une os humores do Brasil e da Argentina.

16 DE MARÇO

20H – ESPETÁCULO – O JOGO DE JÚLIA (COLETIVO LEVANTE)

“Li duas vezes, com uma emoção profunda, a sua tragédia; muito me sur­pre­en­deu tomar cons­ci­ên­cia de uma obra onde minha própria concep­ção de amor — enquanto arma de guerra, cuja origem é a raiva mortal que opõe os dois sexos — foi expressa de forma tão gloriosa”. Assim, disse Ni­etzs­che a Strind­berg, autor de Menina Júlia. Na era vito­ri­ana do século XIX, Strindberg expõe o contraponto das questões de gênero e de hi­e­rar­quia social ao colocar uma mulher cis­gênero aris­to­crata num embate com seu criado, homem cis­gê­nero. A en­ce­na­ção que aqui se apre­senta tem por ob­je­tivo traçar um paralelo entre a época vi­to­ri­ana do século XIX e os dias atuais, com foco nas questões de género e de classe social trazidas pela obra. A proposta surgiu da ne­ces­si­dade dos atores em abordar essas questões, face ao actual momento mundial de re­tro­cesso nesse âmbito. Num mundo que se depara com mi­so­gi­nia e de­si­gual­da­des latentes, o que o separa dos séculos passados? A peça fez sua estreia em janeiro, mês da vi­si­bi­li­dade trans. Com isso, o grupo acredita ser de suma im­por­tân­cia o tra­tamento das questões de gênero que são le­van­ta­das na obra.

17 DE MARÇO

Leticia (assim mesmo, sem acento) é a cidade na Amazônia colombiana onde Tullio Guimarães viveu até os 11 anos de idade. E é a partir daí que a história da peça começa a ser contada, com seus infernos e paraísos: as lembranças da selva, a volta para o Brasil, a descoberta da sexualidade, a luta pela dignidade LGBT, a formação teatral com Dulcina de Moraes, os amores e as desilusões. Ribondi dizia: “essa é a minha peça menos dedicada à palavra”. E explicava o motivo: “Tullio tem um impressionante domínio do corpo e sabe falar com as mãos, as pernas e os olhos. E isso me impressionou muito”. Volver a Leticia é uma celebração dos 35 anos de teatro do ator, diretor e professor de artes cênicas Tullio Guimarães. Ele relembra suas tentativas de dar aulas para crianças, sua paixão pela técnica Butoh, do teatro japonês, sua profunda admiração pela grande atriz brasileira Dulcina de Moraes, fundadora em Brasília da Faculdade Dulcina, onde Tullio Guimarães é professor de interpretação dramática. É um espetáculo dedicado à plasticidade e às cores e à grandeza do corpo como manifestação artística.