Após 45 anos de espera, o épico Megalópolis, de Francis Ford Coppola, estreia nos cinemas brasileiros, explorando poder e ambição em um cenário futurista

Quando Francis Ford Coppola teve a ideia inicial para Megalópolis, ele havia acabado de lançar o icônico Apocalypse Now em 1979. Décadas depois, ambos os filmes ainda ressoam com paralelos significativos, agora reavivados com a estreia de Megalópolis.

Megalópolis

Refletindo um mundo pessimista nos anos 70, marcado pelo fracasso dos EUA na Guerra do Vietnã e por escândalos políticos, o cinema da época retratava incertezas e uma crescente desconfiança, antecipando uma sociedade de consumo exacerbado nos anos 80. Em Apocalypse Now, o tenente-coronel que surfa em meio a bombardeios e o coronel que se enxerga como Messias simbolizam o apocalipse de uma era. Agora, em Megalópolis, Coppola atualiza essa visão em um mundo de extremos, governado por figuras políticas desmedidas.

Narrado por Laurence Fishburne, o filme começa anunciando um “novo fim de império” com Nova Roma, uma cidade moderna inspirada na ascensão e queda da Roma Antiga. Envolvida em disputas de poder, Nova Roma expõe personagens cujos nomes aludem aos antigos governantes romanos, como Cesar Catilina (Adam Driver) e o prefeito Cicero (Giancarlo Esposito). Embora as referências históricas e literárias não sejam aprofundadas, elas estabelecem uma ligação crítica entre passado e presente, focando na resistência conservadora ao progresso, na desvalorização da ciência e na ascensão de novas formas de autoritarismo.

Assim como o Fórum Romano era palco de debates e embates decisivos, Megalópolis propõe que a arena moderna seja a internet, onde Catilina e Cicero se confrontam em discursos públicos teatrais. O filme evoca o “delírio operístico” visto em Apocalypse Now, desta vez com ambientação grandiosa e irônica, remetendo ao estilo barroco de Moulin Rouge de Baz Luhrmann. Entre referências cinematográficas e literárias, há citações a Shakespeare e a homenagem ao expressionismo alemão na construção de cenários imponentes para Nova Roma.

Oito e Meio, de Fellini, também é uma influência, com a trilha de Nino Rota pontuando cenas de debates acalorados. Além disso, o personagem Claudio (Shia LaBeouf) introduz uma “fake news”, expondo questões de manipulação midiática.

Em Megalópolis, Coppola explora a esperança, palavra-chave para Catilina, o arquiteto visionário disposto a enfrentar revezes na busca de uma sociedade melhor. Inspirando-se em figuras como Cristo, Catilina é um arquiteto “do espaço e do tempo”, quase um messias contemporâneo, lembrando o conceito de “arquitetura dos sonhos” visto em A Origem, de Christopher Nolan.

Com uma narrativa densa e provocativa, Megalópolis se torna um marco experimental no legado de Coppola, que, aos 85 anos, entrega uma obra ambiciosa e desafiadora, única em sua complexidade e profundidade.

Ficha Técnica:

31 de outubro de 2024 | No cinema | 2h 18min | Drama, Ficção Científica
Direção: Francis Ford Coppola | Roteiro: Francis Ford Coppola
Elenco: Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel
Título original: Megalopolis