Bruna Betito explora condição da ‘amante’ no solo VACA, que estreia no Sesc Belenzinho em junho. Espetáculo tem como ponto de partida experiências pessoais da atriz, diretora e dramaturga, deslocadas para um universo onírico, surreal e mitológico

O universo e a condição da amante, essa figura transgressora e indissociável ao casamento que geralmente é condenada sem direito à defesa, inspira a criação do solo teatral VACA, com direção, dramaturgia e atuação de Bruna Betito. O espetáculo estreia no dia 30 de junho, na Sala de Espetáculos II do Sesc Belenzinho, onde segue em cartaz até 23 de julho, com apresentações às sextas e aos sábados, às 21h30, e aos domingos, às 18h30.

O trabalho parte da autobiografia da própria atriz e autora do texto, mas, já de início, essas experiências são deslocadas para um universo onírico, surreal e mitológico, a partir dos sonhos dela com o Apocalipse, que são narrados e dramatizados, misturando realidade documental, ficção e uma dose de sarcasmo.

Em cena, a performatividade, a dança, o recurso de materiais e situações que presentificam a atriz e o público num jogo interativo e irrepetível também são pontos essenciais para a criação cênica e dramatúrgica. Exemplo disso é o estabelecimento de uma espécie de santa ceia, que, na verdade, se transforma em um fórum, no qual o público é convidado a discutir sobre “infidelidade” de forma anônima. Nesse sentido, trata-se de uma dramaturgia na qual a presença do público soma sentidos e conteúdos para a obra.

Além da referência autobiográfica, a criação dramatúrgica utiliza-se de outros autores como inspiração, entre eles Gustave Flaubert com sua “Madame Bovary”; Elisabeth Abbot com seu compêndio “Amantes: uma história da outra”, que retrata a biografia de várias amantes desde a Antiguidade até os anos 60; e Esther Perel com seu “Casos e Casos”, um diário de psicoterapia com casais que passaram por situações de infidelidade.

Outras referências importantes são o universo da mitologia grega com suas histórias de amor e traição, em especial a história do triângulo Zeus-Hera-Io (também retratada na peça “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo). Nesse mito, Hera, transforma a amante de Zeus, Io, em uma vaca branca. E por último, a Bíblia, que possui histórias, parábolas e mandamentos muito precisos a respeito deste tema.

A História da Outra, por Bruna Betito

“Não tive relações sexuais com aquela mulher”
Presidente Bill Clinton

“Henrique VIII e Ana Bolena. Cleópatra e Júlio César. Elizabeth Taylor e Richard Burton. Monica Lewinsky e Bill Clinton. Shakira e Piqué. Eu e você. Histórias de casos amorosos nos consumiram, cativaram, aterrorizaram e excitaram ao longo da história. Além do voyeurismo desses casos públicos de celebridades, todos os dias podemos encontrar casais que foram devastados pela infidelidade.

Neste exato momento, em todos os cantos do mundo, alguém está traindo ou sendo traído, pensando em ter um caso, aconselhando alguém que está no meio de um ou completando o triângulo como amante secreto. O adultério existe desde que o casamento foi inventado. Ele é tão condenado que possui dois mandamentos na Bíblia: um por consumá-lo e outro só por pensar nele. Portanto, como devemos entender esse tabu consagrado pelo tempo? Universalmente proibido e universalmente praticado?

Há poucos termos neutros para falar sobre o adultério. O próprio termo ‘adultério’ é derivado da palavra ‘corrupção’. Raramente alguém, em meio a uma conversa sobre ‘casos’, quer ficar isenta de tomar algum partido. O que o trabalho aqui pretende é ampliar as fronteiras do problema, uma vez que se reduzirmos a conversa apenas para um juízo de valor, não nos resta conversa nenhuma, muito menos, um trabalho artístico.

Longe de propor uma ‘receita’ de como se relacionar ou criar ‘certo ou errado’ para as situações da vida humana, o que interessa ao espetáculo, são seus clichês, rituais, gestos, discursos e coreografias sociais culturalmente construídas. Olhar para estas práticas a fim de investigá-las, tensioná-las e confrontá-las, na tentativa de deslocar imagens profundamente enraizadas a respeito do papel da mulher.

A proposta é de um encontro baseado na contradição, um acontecimento irrepetível que possa nos convocar a uma ultrapassagem de nós mesmos e a um trabalho ético-político, ético-estético. Potencializar a experiência amorosa no que ela tem de revolucionária e não de conformista”.

Sinopse

VACA parte do universo das amantes – ou da condição das amantes ao longo da história: essa figura transgressora e indissociável ao casamento, condenada e sem direito de defesa. É a saga e peregrinação de uma mulher que está em constante busca pela identidade animal a qual foi destinada

Ficha Técnica

Direção, atuação e dramaturgia: Bruna Betito
Dramaturgismo: Debora Rebecchi
Orientação cênica: Janaína Leite
Preparação corporal: Thiane Nascimento
Adereços em arame: Ítalo Iago
Videografia: Vic Von Poser
Vídeo final: Tati Caltabiano
Iluminação: Daniel González
Figurino: Silvana Carvalho
Operador de som: Carlos Jordão
Técnico de palco: Rodolfo Amorim
Contrarregras: Emilene Gutierrez e Rafael Costa
Intérprete de Libras: Fabiano Campos
Montagem de Luz: Daniel González e Felipe Mendes
Direção de Produção: Aura Cunha | Elephante Produções
Assistente de Produção: Ludmilla Picosque

Serviço

VACA, de Bruna Betito
Temporada: 30 de junho a 23 de julho*
Às sextas e aos sábados, às 21h30, e aos domingos, às 18h30
*As sessões dos dias 14, 15 e 16 de julho terão interpretação em Libras

Sesc Belenzinho – Sala de Espetáculos II – Rua Padre Adelino, 1000, Belenzinho
Ingressos: R$30 (inteira), R$15 (meia-entrada) e R$10 (credencial plena)
Venda online no site sescsp.org.br a partir do dia 20/6 às 17h pelo aplicativo Credencial Sesc SP e no dia 21/6 nas bilheterias da unidade.
Classificação: 18 anos
Duração: 60 minutos
Acessibilidade: sala acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

SESC BELENZINHO
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000.
Belenzinho – São Paulo (SP)
Telefone: (11) 2076-9700
www.sescsp.org.br/belenzinho

Estacionamento

De terça a sábado, das 9h às 22h. Domingos e feriados, das 9h às 20h.
Valores: Credenciados plenos do Sesc: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional.

Transporte Público
Metro Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m)