Documentário de Catarina Accioly narra em primeira pessoa a despedida do icónico diretor de teatro Hugo Rodas. Rodas de Gigante marca a estreia da diretora como roteirista e diretora em longas-metragens

Selecionado para a mostra competitiva do 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro), de 9 a 16 de dezembro, em Brasília, o documentário Rodas de Gigante marca a estreia da diretora Catarina Accioly como roteirista e diretora em longas-metragens em um filme traduzido pelo ‘improviso poético’ que reverência a trajetória do multifacetado diretor de teatro latino-americano Hugo Rodas.

Pupila do (multi)artista que morreu aos 82 anos em abril de 2022, no Distrito Federal, Catarina Accioly registrou no Brasil – onde Rodas viveu por mais de 40 anos – e no Uruguai – terra natal do diretor -, os ‘surpreendentes quatro últimos anos de sua vida’ dedicada à arte, no qual Hugo narra em primeira pessoa a despedida como icónico diretor teatral.
Catarina Accioly acompanhou in loco momentos e situações vividas em intimidade e publicamente por Rodas, entre 2018 a 2022, recortando fragmentos de sua rotina teatral e afetiva, conexões com suas inúmeras redes afetivas e profissionais, dos 79 aos 82 anos, entrelaçados com a pandemia de Covid-19 e a luta que o artista travou contra um câncer no intestino.

“O filme traz a contradição do confronto do protagonista diante de sua morte [que ocorreu três meses após a finalização das filmagens] anunciada ao mesmo tempo em que mostra, em cadência inspiracional, as delícias da persistência e exaltação da vida. As festas de aniversário dos 79 aos 82 anos são pilares estruturais desta história”, conta Catarina Accioly.

Catarina Accioly conheceu Rodas aos 19 anos quando cursava Artes Cênicas na UnB (Universidade de Brasília), e há 16 anos atuando como diretora de audiovisual se considera ‘cria do teatro’ pela convivência e aprendizado, em especial com o amigo e mestre.
“Realizar esse filme partiu de um desejo ardente de conviver, observar e registrar os últimos anos de vida de Hugo. E estar em conflito pelo sentimento de conviver e presenciar uma intensa despedida de Hugo em frente à lente”, diz Catarina Accioly.

Radicado no Brasil desde os meados dos anos 1970, Hugo Rodas atuou como ator, diretor, bailarino, coreógrafo, cenógrafo, figurinista e professor de teatro. Estabeleceu-se no Distrito Federal em 1975, e consolidou-se como um dos diretores mais expressivos e inquietos do país.

Alguns dos maiores sucessos de público e crítica da história do teatro e da dança de Brasília têm a assinatura de Hugo Rodas: Senhora dos afogados (1987), A casa de Bernarda Alba (1988/91), A menina dos olhos (1990/91), Romeu e Julieta (1993/99), O olho da fechadura (1994/95), The Globe Circus (1997), Shakespeare in concert (1997), Arlequim: servidor de dois patrões (2001/02), Rosanegra – uma Saga Sertaneja (2002/05), O rinoceronte (2005/2006) além do memorável Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo (2005-2015).

No Planalto Central, Rodas fundou o Grupo Pitú (1976-1981), com o qual apresenta vários espetáculos, entre os quais o clássico Os Saltimbancos, contemplado com o Prêmio do Serviço Nacional do Teatro como melhor espetáculo infantil de 1977
No início dos anos 1980, trabalhou no Teatro Oficina, com o diretor José Celso Martinez Corrêa, e no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), com o diretor Antônio Abujamra (1932-2015), com quem fez diversas parcerias em direção teatral ao longo da vida, entre elas Senhora Macbeth (2006), com Marília Gabriela, Os demônios (2006), do escritor russo Fiodor Dostoiévski, e Cantadas (2007), monólogo com a atriz Denise Stoklos.

“Certamente eu não teria trilhado passos de autoralidade que me conduziram à roteirista e diretora de cinema se tivesse outra trajetória. Se não fosse formada por um homem tão genuíno, encantador e talentoso como Hugo Rodas”, afirma Catarina Accioly.

A diretora diz que começou a documentar Rodas no seu aniversário de 79 anos, e que a estruturação do documentário se deu por meio do relacionamento com o personagem central do documentário, na reverberação de ‘conflitos muito profundos de morte e vida, de permanência e relação por meio da arte, do mundo normal ao pandêmico’.

“Estrear como roteirista e diretora em longas metragens com este documentário é um enorme desafio. Dirigi um filme que narra em primeira pessoa a despedida de alguém que é muito importante para o teatro, para muita gente e, especialmente, para mim. Hugo foi meu maestro e professor, cúmplice e carrasco, amigo contraditório de toda uma vida”,

RODAS DE GIGANTE

Roteiro: Catarina Accioly e Daniela Diniz
Direção: Catarina Accioly
Duração: 98 minutos
Gênero: Documentário
Lugar e época: Brasília (2018 a 2021); Juan Lacaze e Montevidéu (2022)
Sinopse: Expõe fragmentos dos últimos quatro anos da intensa vida do artista uruguaio Hugo Rodas, um dos mais importantes diretores de teatro da América Latina. Rodas foi uma explosão criativa nas artes e nas suas relações pessoais, temas que se fundem eternamente.

Biografia do personagem

Hugo Renato Guisto Rodas, conhecido como Hugo Rodas. Nascido em Juan Lacaze, Uruguai, no dia 27 de maio de 1939; falecido em Brasília, Brasil, em 13 de abril de 2022, aos 82 anos, após complicações do tratamento de câncer generalizado; e após 3 meses de finalização das filmagens do Rodas de Gigante.

Um artista latino-americano dos mais talentosos e importantes de seu tempo. Altamente ativo, propositivo, conectado ao mundo, às pessoas e ao teatro, até o final de sua vida. Foi ator, bailarino, diretor, figurinista, cenógrafo, coreógrafo, professor de teatro, além de um exímio pianista.

Fixou-se em Brasília em 1975, vindo de muitas andanças e ditaduras pela América Latina, sem jamais perder o vínculo com sua cidade natal. Construiu uma trajetória virtuosa no Brasil, desde o Grupo Pitú ao seu último grupo de teatro: ATA – Agrupação Teatral Amacaca.

Ao longo de sua história, Hugo recebeu inúmeros prêmios por suas criações, tornando-se, assim, uma figura icônica no cenário teatral brasileiro. Destacamos o Prêmio do Serviço Nacional do Teatro (1977) para melhor espetáculo infantil pela antológica montagem de Os Saltimbancos, e o Prêmio Shell (1997), pela direção do espetáculo Dorotéia, ao lado de Adriano e Fernando Guimarães. Hugo Rodas era Comendador e Oficial da Ordem do Mérito Cultural de Brasília, além de Cidadão Honorário de Brasília, três títulos conferidos pelo Governo do Distrito Federal. Recebeu também o título de Notório Saber em Artes Cênicas (1998) e, mais recentemente (2014), de Professor Emérito, ambos da UnB (Universidade de Brasília), instituição na qual foi professor e pesquisador do Departamento de Artes Cênicas por mais de 30 anos, ministrando aulas, inclusive, durante a pandemia.

Biografia da diretora

Catarina Accioly é roteirista e diretora formada em Artes Cênicas pela UnB (Universidade de Brasília) e especializada em direção cinematográfica pela EICTV – Cuba. Com 28 anos de experiência em cinema, teatro e TV em múltiplas funções, atuou também como atriz e preparadora de elenco em mais de 35 filmes, entre curtas e longas.

Como realizadora, produziu, roteirizou e dirigiu: A Obscena Senhora D, adaptado da obra da escritora Hilda Hilst; Entre Cores e Navalhas (em parceria com Iberê Carvalho) e Uma Questão de Tempo (em parceria com Gustavo Galvão) que circularam festivais nacionais e internacionais, passaram por 19 países, conquistaram prêmios de direção, interpretação, montagem e arte, e foram exibidos no AXN e SESC TV.

Produziu o FIC Brasília – Festival Internacional de Cinema. Foi júri de seleção e premiação em festivais em Brasília (Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e Festival Internacional de Cinema de Brasília), Santa Catarina (Catarina Festival de Documentários) e Festival de Cinema de Curitiba.

Foi coordenadora da TV MDA (TV pública do Ministério do Desenvolvimento Agrário) e produziu conteúdos para NBR-EBC (TV Nacional do Brasil), sendo responsável pela elaboração e realização de mais de 200 produtos audiovisuais.

Dirigiu documentários e matérias especiais nos quatro cantos do Brasil para organizações governamentais e internacionais sobre temáticas sociais. Catarina também foi idealizadora, produtora e diretora artística do Festival Frente Feminina de múltiplas linguagens, evento dedicado a produções teatrais e audiovisuais de artistas mulheres, com recorte local, nacional e internacional.

Em 2014, fundou a Stelios Produções para produzir conteúdos independentes nos quais permeiam temáticas com o protagonismo da mulher, questões de gênero, temas ligados à criança e adolescência, e que foquem em ampliações de perspectivas para um mundo melhor, mais justo e igualitário; alinhados aos 17 ODS da ONU para a Agenda 2030.