Primeiro episódio desta nova temporada de Retratos Ceilândia foi ao no sábado (18), em canal no YouTube e traz os irmãos Israel Paixão e Rafa Black. Até outubro, o projeto apresenta outros artistas, mostrando a efervescente produção cultural da maior região administrativa de Brasília.

Lançamento da segunda temporada do projeto “Retratos”, desta vez dando protagonismo à produção cultural de Ceilândia.

De acordo com o músico Nelson Latif (www.nelsonlatif.com), um dos idealizadores e produtores do Retratos Ceilândia junto com o fotógrafo e produtor cultural Tiago dos Santos (berinjela.art.br), a intenção do projeto foi captar a imagem de uma Ceilândia extremamente diversa e forte caldeirão cultural. “Provavelmente, esse caldeirão chega a ser mais intenso que o Plano Piloto”, pontua Latif, ressaltando também o recorte de “mostrar que Ceilândia é uma comunidade alegre e envolvida com arte, para fazer contraponto às notícias de violência, de crime e de desassistência que são propagadas pela televisão”.

A produção da websérie “Retratos Ceilândia” documenta a história de 18 artistas, com grande diversidade de linguagens artísticas (música, dança, cinema, artesanato, produção artístico-cultural, humor, grafite, tradução em Libras e arte drag), étnico-racial e de gênero. No total, serão 16 episódios (dois com entrevista dupla), cada um com 20 minutos de conversa solta e o compromisso central de fazer uma imersão na história de vida de cada personagem apresentado, como se fosse um retrato falado pelos próprios protagonistas. Todas as gravações foram realizadas no início de junho, no palco do Sesc Ceilândia, um dos mais importantes equipamentos culturais de Brasília.

Pílulas

A proposta de apresentação do “Retratos Ceilândia” é a da veiculação semanal dos episódios, sempre aos sábados, a partir das 10h, até o mês de outubro. Trata-se de mais uma iniciativa do Coletivo Educação pela Arte, como alternativa à suspensão das atividades presenciais no começo da pandemia do Coronavírus. O projeto tem como mote balizador a exploração da relação que cada artista tem com o meio em que vive e produz sua arte.

“É muito legal contar as ricas histórias sobre como pensa quem produz arte fora do eixo de visibilidade de Brasília. Ceilândia, é muito mais do que a mídia retrata. Ali tem um povo alegre, intenso, muito antenado com o que está acontecendo no mundo, tanto em termos de tecnologia, como de conhecimento, do Clube da Esquina à Europa”, destaca Nelson Latif.

O fotógrafo e produtor cultural Tiago dos Santos, que nasceu e vive em Ceilândia, comemora a realização do trabalho como o cumprimento de parte de seu próprio propósito de vida. Ele é também roteirista e videomaker de arte. “Foi bem fácil me enxergar em cada um dos artistas entrevistados. Muitos deles – assim como eu -, cresceram nos anos 1990, com a impressão de que o sucesso na arte estava diretamente ligado a ganhar muito dinheiro e ser famoso. Somente com a maturidade descobrimos que, para a maioria, sucesso é conseguir viver da arte que se ama. Para mim, foi incrível produzir o “Retratos Ceilândia”, mostrando a persistência dessas pessoas, mesmo com quase tudo contra elas”, relata Santos.

Tiago ainda chama a atenção para a dificuldade que os artistas – considerados fora do eixo de interesse e visibilidade da mídia – precisam enfrentar para ter seu trabalho visto, conhecido e reconhecido. “Vivemos numa sociedade que consome arte em doses cavalares e diárias, mas que, mesmo assim, não consegue entender o real valor do artista e, muito menos, o caminho necessário para que ele se tornasse o que é. Especialmente o artista de periferia”, sublinhou.

Além da dupla Israel Paixão e Rafa Black, o “Retratos Ceilândia” mostrará a história dos músicos Paulo Veríssimo, Débora Zimmer, Sidney Rosa, Edson Arcanjo, Sivuquinha, Josiane Araújo, Lídia Dallet e Cezar de Paula; da bailarina Shaiene Santana, do cineasta Arthur Gonzaga, do humorista Magno Martins, do ator Renan Mendes, da drag queen Bonnie Butch (Coletivo Quebrada Queen), da tradutora de Libras Babi Barbosa, e dos grafiteiros Flávio Soneka e Naiana Nati (Makina de Rabisko).

Cultura e fé

Junto com todas as descobertas das histórias pessoais e profissionais de cada entrevistado, Nelson Latif revela que se surpreendeu com um recorte que não contava: a relação dos artistas com a prática vivencial da fé religiosa. “Interessante observar a influência das igrejas protestantes em Ceilândia. Boa parte do grupo de convidados está ligado a uma igreja, especialmente na música.

Vários artistas do rap que estão na posição de vanguarda na cena cultural daquela região são praticantes de alguma vertente religiosa e foi uma surpresa ver como isso é parte muito importante da vida deles”, conta o violonista e cavaquinista Latif, também coordenador o projeto Alma Brasileira que realiza oficinas, palestras e concertos a estudantes. O músico é também integrante do Trio Baru, participa de vários outros projetos socioeducativos e constantemente divulga a música brasileira no exterior.

O projeto “Retratos Ceilândia” conta com auxílio do educador e músico, Ismael Rattis, que colaborou na curadoria e seleção dos entrevistados. A websérie foi produzida com suporte do Fundo de Apoio à Cultura do DF. Enquanto o público acompanha os lançamentos semanais da temporada, os organizadores aproveitam para pensar a próxima produção: Taguatinga.

Ficha técnica projeto “Retratos Ceilândia”

Realização: Coletivo Educação pela Arte
Direção e produção: Nelson Latif e Tiago dos Santos
Edição de vídeo: Andréia Fonseca | SubFX Arte e Tecnologia