Festival competitivo dá continuidade ao processo de consolidação da cultura do Repente no DF onde duplas de repentistas daqui concorrem com as do Nordeste. Participam destaques da nova geração, veteranos e mulheres repentistas.
Originário do Sertão Nordestino, o Repente se faz presente no DF desde a construção da Capital, quando candangos trouxeram consigo sua bagagem cultural. Hoje, essa arte secular é admirada por apreciadores da Cultura Popular e vem se perpetuando e sendo aperfeiçoada, em especial no Nordeste onde jovens despontam imprimindo vocabulário e abordagem modernas e domínio das rígidas regras de métrica e rima que caracterizam o Repente.
Nos dias 02 e 03 de setembro, com entrada franca, a Casa do Cantador volta a ser palco do festival competitivo que revela novos talentos e congrega cantadores e cantadoras. Com a realização do Encontro dos Campeões do Repente em Brasília, “contribuímos para a integração de jovens no reconhecimento das manifestações artísticas que são basilares em sua herança identitária cultural”, ressalta a organização da competição.
A 1ª edição do Encontro se deu no Setor de Diversões Sul (Conic), já as seguintes foram na Casa do Cantador, em Ceilândia, nos anos de 2010, 14 e 20, realizadas pela Associação dos Cantadores Repentistas do DF – Acrespo, com produção da Arte Poesria.
Ao reunir no DF repentistas que começam a consolidar suas carreiras juntamente com veteranos, consagrados pelo público, e mulheres repentistas de talento reconhecido, faz desta edição um marco na história dos festivais do estilo. O 5º Encontro dos Campeões do Repente em Brasília será transmitido ao vivo pelo Facebook da Casa do Cantador e no canal da Acrespo no YouTube, posterior à realização, será disponibilizado áudio mixado e trechos de vídeo, ampliando a oportunidade de testemunhar o encontro de Repente num evento competitivo.
Para que a Arte do Repente se mantenha viva como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro “é de extrema importância a realização dos festivais de repentistas nas capitais do País e a divulgação do trabalho desses artistas que de violas em punhos brincam com rapidez de raciocínio e jogos de palavras e rimas, cantando um pouco do sentimento, da alegria e da dor de cada um”, acentua a organização.
Participam do Encontro dos Campeões do Repente em Brasília 10 duplas, sendo cinco de Brasília, selecionadas em fase eliminatória interna, e cinco convidadas, vindas do Nordeste. A mais bem pontuada das cinco duplas locais, na 1ª noite do evento, concorrerá com os repentistas do Nordeste na noite seguinte.
Integrando a comunidade local ao Festival, foram promovidas atividades prévias nas escolas de Ceilândia, próximas à Casa do Cantador, com seis apresentações de repentistas e três oficinas de poesia nordestina. Em cada local, um Livreto de Cordel, no total de 1000 cópias, distribuído gratuitamente aos participantes.
Desvendando o Repente
Improvisando, tendo maior ou menor postura combativa, a arte da Cantoria de Repente é a continuidade e o aprimoramento das cantigas d’amor, da ruralidade das cantigas d’amigo e das sátiras das cantigas de escárnio e maldizer. Uma tradição poética nordestina que absorve todas essas características e acrescenta uma série de temas ao contexto, como política, religião, desigualdade social, família, esportes e tantos outros assuntos passam a ser tratados, com esmero e profundidade pelos repentistas, tanto em linguagem popular brejeira quanto rebuscada.
As modalidades mais conhecidas são coqueiro da Bahia, voa sabiá, Brasil de mãe preta, martelo alagoano, curió e segura o remo. Diferentes gêneros para as composições improvisadas de Cantoria de Repente, que se resumem em métricas a serem seguidas para a construção de poesias e que são propostas às duplas que se desafiam.
Os gêneros determinam em quais versos da estrofe as rimas devem coincidir. Destes, o mais comum e, possivelmente, o preferido dos repentistas é a Sextilha, composta de estrofes de seis linhas, ou versos. Caso em que as rimas se dão nas linhas pares. O esquema de rimas começa a ficar mais desafiador a partir da Septilha, ou Setilha, uma adaptação da sextilha, porém, com sete versos. Aqui, as linhas pares rimam até a quarta, daí, a quinta deve rimar com a sexta e a sétima com a segunda e a quarta.
Outro, muito apreciado por repentistas, difundido desde o início da poesia popular, é a Décima, talvez por ser o gênero escolhido para os motes. Para este, cantadores devem compor estrofes de 10 linhas, fechando cada um com os versos da sentença dada – o mote – seguindo sua rima e métrica. O esquema de rimas deve ser construído da seguinte forma: o primeiro rima com o quarto e o quinto; o segundo, com o terceiro; o sexto, com o sétimo e o décimo; e o oitavo, com o nono. O Mote é uma sentença de um ou dois versos que dá o conteúdo sobre o qual o repentista deve versar.
Serviço:
Encontro dos Campeões do Repente em Brasília
Local: Casa do Cantador
Endereço: QNN Quadra 32 Área Especial G – Ceilândia
Entrada franca e livre para todos os públicos
As noites de competição contarão com intérprete de Libras e apresentação de Chico de Assis
Programação:
Sexta-feira, 02 de setembro:
– 20h – abertura com Mamulengo Fuzuê
– 20h30 a 23h – disputa classificatória com cinco duplas do DF e Entorno
– 23h10 – anúncio do resultado da competição pelos quatro jurados
Sábado, 03 de setembro:
– 20h – abertura com Mamulengo Presepada
– 20h30 a 23h – competição com quatro duplas do Nordeste e a classificada do DF:
– Minervina Ferreira e Fabiane Ribeiro (Cuité/PB e Açailândia/MA)
– Antonio Lisboa e Edmilson Ferreira (Recife)
– Helânio Moreira e Felipe Pereira (Natal/RN)
– Jairo Silva e Jeferson Silva (Lavras da Mangabeira/CE)
– Dupla do DF classificada na eliminatório do dia anterior
– 23h10 – anúncio do resultado da competição, pelos quatro jurados, e condecoração dos repentistas