O livro Os Retornados revela a saga dos ex-escravizados brasileiros que, após a abolição, reconstruíram suas vidas e identidades em solo africano
Enquanto o dia 13 de maio, data da assinatura da Lei Áurea, costuma ser lembrado pela abolição formal da escravatura no Brasil, uma outra história – pouco conhecida e raramente contada – revela o que aconteceu com parte dos ex-escravizados antes e depois da “liberdade” decretada em 1888. Sem terras, sem direitos e sem cidadania plena, milhares deles optaram por cruzar o Atlântico, retornando à África ao longo do século XIX. Essa jornada é o tema central do livro Os Retornados, do diplomata e escritor Carlos Fonseca, lançado pela Editora Record no fim do ano passado.
Fruto de mais de duas décadas de pesquisa, viagens e entrevistas com descendentes dessas comunidades, a obra lança luz sobre um dos capítulos mais surpreendentes da diáspora africana. “Essas pessoas não apenas voltaram à África. Elas carregaram o Brasil com elas – na fé, na culinária, na arquitetura, na língua e até nas festas populares. É uma história de recomeços, resistências e identidades em trânsito”, afirma o autor.
Misturando jornalismo investigativo, relato histórico e uma narrativa envolvente, Fonseca reconstrói a trajetória desses escravizados libertos que, diante da pobreza, da falta de oportunidades e da violência racial de um país que rumava lentamente para o fim da escravidão, buscaram refazer suas vidas em territórios como Nigéria, Togo, Benim e Gana. Lá, fundaram comunidades conhecidas por sua brasilidade, que vemos até hoje, na arquitetura das casas, no sabor dos pratos baianos, nas cores das fantasias usadas em folguedos populares, como a dança da burrinha, ou no som das velhas canções brasileiras entoadas durante essas celebrações.
Entre os destaques do livro estão a história de famílias até hoje poderosas e influentes, como os Souza, no Benim, e os Olympio, no Togo. Também as conexões espirituais entre África e Brasil, como ilustradas na história da família Villaça, à qual pertenceu Iyá Nassô, fundadora do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, a mais antiga casa de candomblé da Bahia.
Para Fonseca, o retorno à África foi tanto um movimento no espaço como um ato de grande força simbólica: “Eles saíram do Brasil sem nunca deixarem de ser brasileiros – mesmo que o Brasil nunca os tenha reconhecido plenamente como cidadãos”, resume.
Um mergulho de 20 anos na história afro-brasileira
A qualidade e a profundidade da obra foram reconhecidas por Laurentino Gomes, autor da trilogia 1808, 1822 e 1889, que na apresentação do livro, diz o seguinte:
“Ao reconstituir a história dos retornados brasileiros na África, Carlos Fonseca produziu uma obra de beleza e fôlego ímpares. É ao mesmo tempo um documentário, um registro histórico e uma belíssima reportagem, resultado de mais de vinte anos de viagens, entrevistas, pesquisas e convivência próxima com a maioria dos personagens que povoam este livro.”
Sobre o autor
Carlos Fonseca é diplomata e escritor, com carreira dedicada às relações internacionais e ao estudo da memória afro-diaspórica. “Os Retornados” marca sua estreia como autor de obras de não ficção e representa o resultado de anos de dedicação em países africanos de língua francesa e inglesa, investigando os vínculos históricos entre Brasil e África.
Serviço
Lançamento do livro “Os Retornados”
Título: Os Retornados
Autor: Carlos Fonseca
Editora: Record
Disponível nas principais livrarias físicas e plataformas digitais
Gênero: História / Narrativa jornalística
Temas: Diáspora africana, pós-escravidão, identidade, cultura afro-brasileira, relações Brasil-África
Aproveite com nosso link a oferta do livro na AMAZON