O livro O Mergulho de Douglas Beisl traz contos que retratam o cotidiano brasileiro, destacando questões raciais e de classe em narrativas de resistência e identidade
Um dos contos premiados do escritor Douglas Beisl, “A Cigana do Atlântico”, trata sobre memória e maternidade, e compõe o livro O Mergulho.
Identidade, memória e relações humanas são os cernes da obra “O Mergulho”, um livro de contos que evidencia o cotidiano de pessoas negras no Brasil que precisam conviver com as tensões raciais e de classe. De autoria do premiado escritor independente e advogado Douglas Beisl.
“O meu livro é uma denúncia, ou melhor, um espelho que reflete novas realidades onde pessoas negras não vão mais se calar: vão retomar suas vidas num mergulho de liberdade”, explica o autor. O cotidiano da população negra colocado nos contos é enxergado em situações comuns, como uma manhã de ano novo, um almoço de domingo, ou uma visita ao planetário. “As cenas presentes nas minhas histórias mostram um cenário de preconceitos, passando por uma revelação poética e de contrastes nada sutis do contexto brasileiro em que me incluo”, reflete Beisl.
A exemplo disto estão as recentes pesquisas que reforçam as tensões vividas no Brasil, em sua maioria entre pessoas negras (pretas e pardas), assim como na população periférica. Segundo a divulgação dos dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), em 2018 foram registrados 51,1 mil recém-nascidos somente com o nome materno. Conforme o levantamento, entre 2016 e 2021, foram 16 milhões de nascimentos no país, sendo 859,3 mil (5,33%) registrados sem o nome do pai. O Centro-Oeste está em terceiro lugar, com 5,3% na taxa de ausência do nome do pai. Essas e outras realidades são expostas nos contos como “A Cigana do Atlântico”, “A Última Ceia”, e “O Fim do Mundo”, no livro.
O caminho do negro que escreve sobre suas dores
A auto reflexão encontrou a vivência e explodiu em uma obra literária. Foi estudando o racismo, a negritude e o colorismo, bem como através da própria literatura ficcional, que Beisl teve dimensão de algumas violências que já sofreu, por vezes mascaradas, outras vezes bem explícitas, mas que sempre estiveram em evidência. “Sinto que contar essas histórias é um ato de luta contra o racismo. Por isso minha escrita perpassa por esse reconhecimento como pessoa negra, e pelos estranhamentos que vivencio, e, por essa razão, as protagonistas são todas pessoas negras, evidenciando que, se há uma história imposta para nós, um cotidiano cruel, nós vamos criar uma outra história”, evidencia.
Nascido no interior de São Paulo, Douglas Beisl vive há mais de uma década em Brasília, onde finaliza a pós-graduação em Direito Processual Civil pela Ebradi. Em 2004, conquistou o 1º lugar no “II Concurso de Literatura da Casa do Escritor da Região de Sorocaba (SP)”. Em 2006, ficou em 5º lugar no “Concurso Rocha Moutonnée de Poesia de Salto/SP” e no mesmo ano garantiu o 3º lugar no “Concurso Literário Dr. Ermelindo Maffei”, da Academia Ituana de Letras e Faculdade de Direito de Itu (SP). Beisl também publicou contos em revistas e editoras independentes como “A Cigana do Atlântico” na Coletânea “Entre Janelas”, publicado pela Oribê Editorial em 2020, “O fim do mundo” pela Revista Ensaio Ano II em 2021 e o conto “Já viu mancha de sangue no tapete?” na coletânea “Prosas de oficina (volume II)” pela Editora Escaleras em 2022.
Conheça a editora Oribê:
O nome “Oribê” é criado a partir de uma contração livre do idioma yorubá, significando elevação da cabeça. A Oribê é uma editora independente de Taguatinga (DF) com atuação também em Salvador (BA) que surgiu em 2019. Publica livros de artes, literatura e religiosidades afro-brasileiras. Buscamos visibilizar a produção escrita de pessoas fora do eixo RJ-SP. Saiba mais no espacodeculturaoribe.com.br
Serviço:
Instagram Douglas Beisl: https://www.instagram.com/
Site Editora Oribê: https://espacodeculturaoribe.