Comédia Miss França, de Ruben Alves, discute identidade de gênero

Protagonizado pelo modelo Alexandre Wetter, indicado ao César, filme chega aos cinemas brasileiros em 19 de maio.

Conhecido por “A Gaiola Dourada”, o ator e cineasta luso-francês Ruben Alves encontra em MISS FRANÇA um material farto para discutir questões extremamente contemporâneas: as de gênero. Transitando entre o drama e a comédia, o longa chega aos cinemas brasileiros em 19 de maio, com distribuição da Pandora Filmes.

O filme é protagonizado por Alexandre Wetter, jovem modelo da Jean-Paul Gaultier, que, se valendo de sua androginia, interpreta aqui Alex, um jovem não binário, decidido a vencer o concurso de beleza Miss França. Por esse trabalho, o ator estreante foi indicado ao César, em 2021, como revelação masculina mais promissora.

Para participar do concurso, Alex assume o nome de Alexandra, e, cercado de sua família, enfrenta as fases e percalços do concurso. Ele conta com a ajuda da travesti Lola (Thibault de Montalembert), que cuidará de sua estética e da transformação física. Já Randy (Moussa Mansaly) e Ahmed (Hedi Bouchenafa) serão responsáveis por suas redes sociais.

Em entrevista ao site português C7nema, Alves conta que MISS FRANÇA surgiu de seu contato com Wetter e da vontade de descobrir quem somos. “Tinha muitas ideias, já tinha escrito coisas com as quais não estava contente, que não me satisfaziam completamente. Quando encontrei o Alexandre, toda a sua luz – até porque é alguém muito positivo – fascinou-me. Ele contou-me a sua história e fiquei fascinado. A coragem que temos que ter hoje em dia para sermos diferentes numa sociedade que dá uma imagem super libertina, mas afinal – e cada vez menos – aceita a diferença.”

Já o modelo e ator também confessa, em entrevista à Vogue, que o filme foi um excelente desafio. “Tive de me adaptar à personagem. Apesar de termos muito em comum, tive de aprender muito com a personagem. O Ruben [Alves] deu-me uma oportunidade de ouro de interpretar uma personagem muito sútil, para a qual a precisão era uma prioridade.”

Ele também aponta que Alex é uma personagem universal, “que vai além do sexo e do gênero. É uma personagem determinada a viver os seus sonhos e dar ouvidos aos seus desejos – e então decide aceitá-los e desafiar a ordem estabelecida. Esta personagem fala para toda a gente, até para aqueles que vivem bem neste mundo padronizado e que podem ajudar pessoas que não correspondem ao standard a fazer da sua unicidade um ‘não-assunto.’”

Alves, que assina o roteiro com Elodie Namer, conta que pediu ajuda a Sylvie Tellier, ex-Miss França e atual diretora do concurso. “Estive com ela no início e disse: Sylvie, tem de me dizer uma coisa, senão para mim é muito difícil escrever algo que na minha cabeça penso que é impossível. Era possível acontecer isto? Ela disse: ‘Era, pela razão muito simples que eu nunca vou ver se é uma mulher ou um rapaz. Vejamos que o Alex é completamente mulher e tem os documentos falsos. Eu nunca vou ver se é ou não é’. Aliás, ela disse-me que há dois anos teve algumas dúvidas numa candidata em Toulouse e não a escolheram, pois não queriam ter um escândalo. Mas se calhar, até já tiveram e nunca se soube. Na minha cabeça, ela disse-me que era possível, por isso…”

Daniel Antero, na revista Sapo, escreve que “Filme simpático, MISS FRANÇA, que pretende ser entretenimento familiar com ingenuidade, doçura e humor, vale-se da intrínseca familiaridade de Alexandre Wetter com a sua personagem. Delicado, de rosto iluminado, centra todas as atenções, revelando emoções que certamente viveu, com um encanto natural e experiente.”

MISS FRANÇA será lançado no Brasil pela Pandora.

Sinopse

Desde criança, Alex tem a ambição de se tornar Miss França. Aos 24 anos, ele recupera o sonho de infância e, escondendo a sua identidade masculina, entra na competição pelo título da mais bela mulher francesa. Apoiado por sua excêntrica família, Alex vai enfrentando as fases do concurso e descobrindo um mundo de beleza, exigência e sofisticação, no qual o maior prêmio será a felicidade de ser ele mesmo.

Ficha Técnica

Direção: Ruben Alves
Roteiro: Ruben Alves, Elodie Namer
Produção: Laetitia Galitzine, Hugo Gélin
Elenco: Alexandre Wetter, Isabelle Nanty, Pascale Arbillo, Thibault de Montalembert
Direção de Fotografia: Renaud Chassaing
Desenho de Produção: Philippe Chiffre
Trilha Sonora: Lambert
Montagem: Valérie Deseine
Gênero: comédia, drama
País: França, Bélgica
Ano: 2020
Duração: 107 min.

Sobre a Pandora Filmes

A Pandora Filmes é uma distribuidora de filmes de arte, ativa no Brasil desde 1989. Voltada especialmente para o cinema de autor, a distribuidora buscou, desde sua origem, ampliar os horizontes da distribuição de filmes de arte no Brasil com relançamentos de clássicos memoráveis em cópias restauradas, de diretores como Fellini, Bergman e Billy Wilder, e revelações de nomes outrora desconhecidos no país, como Wong Kar-Wai, Atom Egoyan e Agnés Jaoui.

Paralelamente aos filmes internacionais, a Pandora Filmes sempre reserva espaço especial para o cinema brasileiro, lançando obras de diretores renomados e também de novos talentos. Dentro desse segmento, destaca-se o recente “Que Horas Ela Volta”, de Anna Muylaert, um grande sucesso, visto no cinema por mais de 500 mil espectadores.

Miss França