Maria Rita Stumpf lança seu quarto álbum, “Ver Tente” e videoclipe filmado com povos indígenas no Rio e em Xingu

Revelada nos anos 80 e recém descoberta por DJs e produtores europeus, cantora gaúcha reúne, em dez faixas, canções autorais e releituras de grandes nomes da MPB, com a luxuosa participação de Danilo Caymmi, Farlley Derze, Danilo Andrade, Marcos Suzano, Lui Coimbra, dentre muitos outros.

O canto forte, visceral e presente da gaúcha Maria Rita Stumpf volta a entoar o Brasil mais profundo em seu mais novo álbum “Ver tente”, o quarto da carreira. Disponível nas plataformas digitais a partir do dia 26 de maio, o lançamento reverbera a pluralidade sonora que nos ambienta de norte a sul, das aldeias indígenas, da serra gaúcha, do caos urbano, da latinidade brasileira. Dois anos após seu elogiado álbum “Inkiri Om” –, lançado em 2020 durante a pandemia e no embalo da redescoberta de seu primeiro álbum “Brasileira” (1988) por DJs e produtores de influentes pistas europeias (2017) – Maria Rita Stumpf regrava em dez faixas suas composições autorais e resgata um cancioneiro majestoso de grandes nomes da MPB, tudo isso com a participação de uma constelação de instrumentistas.

O título do álbum, com as palavras separadas, dá o impulso para a criação, rompendo fronteiras, indo além de algum lugar ou ideia. Nada aparece em vão na obra da artista revelada nos festivais de música do Rio Grande do Sul, que gravou nos anos 80 e 90 ao lado de Luiz Eça, Ricardo Bordini e do grupo mineiro Uaktí. A faixa de abertura, “Vertente”, em palavra única, sinaliza a transgressão proposta, anunciando também o som de rio fluindo, deixando as águas seguirem com destino ao desconhecido, ao novo – talvez para um lugar de calmaria, talvez para um abismo, – rumo ao incerto. Lançada em 1984 no festival X Vindima da Canção Popular de Flores da Cunha (RS), registrada na época em uma gravação ao vivo, com a própria compositora ao violão, a “faixa-título” ganha aqui nova gravação, de janeiro de 2022, em arranjo ousado de Danilo Andrade e participações de Kassin Kamal (baixo e guitarra cítara) e Orlando Costa (percussão), já estabelecendo o conceito do álbum. A mesma música aparece em outra versão, de 1993, no final do álbum, misturando sons da cidade, do cotidiano e da farra de crianças livres. “Doce vertente que vem do olhar dos guris / Da força e do ventre das meninas / Líquida esperança / Do entardecer redescoberto / Na magia de toda criação”. A mesma mensagem em diferentes abordagens e momentos.

A delicada “Melodia de Veludo”, em arranjo de Ricardo Bordini, o mais antigo parceiro da compositora, é desenhada pela harpa de Cristina Braga e o clarinete de José Batista Junior. Os ritmos telúricos e eletrônicos aparecem na forte “Troca de Dono” e no “Cântico brasileiro nº 3”, sua mais conhecida música, aqui em sua primeira gravação, ao vivo no Festival Musicanto de 1984. Com delicadeza, a cantora segue por “Mata Virgem”, lado B da obra de Raul Seixas recriada com arranjo para violão, charango e violoncelo por Lui Coimbra. Outra releitura traz um grande clássico de Dorival Caymmi, “O Vento”, com participação especial na flauta e na voz de Danilo Caymmi e base de Marcos Suzano. Ao toque do teclado de Farlley Derze e do contrabaixo de André Santos, Maria Rita Stumpf mostra novos e agudos caminhos no “Açaí” de Djavan.

“San Vicente”, clássico do Clube da Esquina, celebra os 80 anos de Milton Nascimento, parceiro de Fernando Brant na música. A artista propõe, ao lado do pianista Farlley Derze, uma concepção diferente da canção, que cresce acompanhando o canto, culminando pelos ritmos do bombo leguero e do charango numa grande festa popular. A icônica “Pavão Mysteriozo”, une gravação de 1993 nos dois primeiros minutos e de 2022 nos dois últimos, ressaltando o caráter atemporal da música de Ednardo. A conclusão contemporânea se desenvolve a partir do piano de Danilo Andrade, resgatando a melodia onde havia parado, expandindo-a junto à voz da cantora, que valoriza a poesia e a melodia da música, cuja letra foi inspirada em um cordel chamado “O Romance do Pavão Misterioso”.

“Ver Tente é um convite e um desafio”, aponta Stumpf e complementa: “o nome do álbum surgiu a partir do título de minha composição “Vertente”, que tem como primeira frase “Calar o som que não verte luz!”(…) Em tempos de fake news, barbáries e informação controlada em diferentes níveis, tentar ver é essencial… após retornar aos palcos e estúdio com “Inkiri Om”, “Ver Tente” completa um ciclo criativo e de vida”, concluiu.

VIDEOCLIPE

Simultâneamente, a artista está lançando o videoclipe de uma de suas canções mais icônicas, “Cântico Brasileiro nº3” (Kamaiura), composta por Maria Rita Stumpf em 1978 quando um grave conflito acontecia no noroeste do Rio Grande do Sul, mais precisamente na terra indígena dos Kaingáng, em Nonoai. Gravada pela primeira vez em 1984 no Festival Musicanto (RS), a faixa recebeu, em 1988, arranjo do lendário grupo Uaktí – naquele ano, Maria Rita era indicada como Revelação Feminina no Prêmio Sharp – e está presente no novo álbum “Ver Tente”.

Filmado na cidade do Rio de Janeiro e na Aldeia Topepeweke, no Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, o clipe tem atuação de Kaingángs e Waujas. A origem indígena da cidade carioca, definida pelo nome da etnia Kariok, presente entre outras na chegada dos portugueses, a construção dos Arcos da Lapa por seus povos originários em regime de escravidão, a situação atual de risco dos povos indígenas que ali vivem e também daqueles que habitam a floresta, aliados à beleza de sua arte e forma de vida, criam cenas de grande impacto e encanto que, em tempos de pressa e impaciência, nos fazem querer assistir reiteradas vezes o clipe de 7 minutos e 47 segundos. Direção, roteiro e edição foram realizados a quatro mãos por Henrique Santian, que também foi responsável pela direção de fotografia e captação das imagens, e Maria Rita Stumpf.

Além da artista, participam das filmagens representantes de diferentes povos: Vãngri Kaingáng, ativista, professora, escritora e artista visual, nascida no Rio Grande do Sul e residente no Rio de Janeiro e Piratá Waurá, professor e documentarista, residente na Aldeia Pyiulaga, no Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, são presenças marcantes no clipe ao lado do Povo da Aldeia Topepeweke da etnia Wauja, o performer Douglas Peron, que aparece em uma máscara de um Apapaatai, um ser espírito, raptor de almas, comum no Alto Xingu e muito importante na etnia Wauja, que teve seu nome corrompido para Waurá (pela cultura branca).

Maria Rita Stumpf

Gaúcha de Aparados da Serra, atualmente radicada em São Paulo, Maria Rita Stumpf teve, em 2017, sua carreira redescoberta mundialmente a partir de remixes de música eletrônica, com a consequente reedição de seu álbum “Brasileira” em LP e o lançamento, no exterior, do EP “Brasileira – Remixes”, abrindo caminho para o seu retorno aos palcos e estúdios. O álbum de 1988 foi gravado por Ricardo Bordini, o Grupo Uaktí e Luiz Eça, com quem desenvolveu longa parceria até 1992, quando Eça faleceu.

Em 1993 lançou o CD “Mapa das Nuvens”, com músicos como Marcos Suzano, Danilo Caymmi, Farlley Derze, Lui Coimbra, André Santos e Eduardo Neves, preservando as gravações com Eça e Grupo Uaktí pois o vinil desaparecia, substituído pelo Compact Disc. Porém, a partir de 1993 começou a se dedicar integralmente à atividade de produção frente à Antares, afastando-se dos palcos como artista, mas trazendo ao Brasil e países da América do Sul os mais importantes nomes da cena artística mundial, como Mikhail Baryshnikov, Twyla Tharp, Pilobolus, American Ballet Theatre, Marcel Marceau, Jean Pierre Rampal, Philip Glass, dentre muitos outros.

Ouvir o album “Ver tente”

VER TENTE – FICHA TÉCNICA

Direção Artística e Produção Musical: Maria Rita Stumpf
Mixagem: Matheus Câmara e Philippe Ingrand (Doudou)
Masterização: Luiz Ribeiro
Design Gráfico: JJBZ (Juliano de Oliveira Moraes)
Produção Executiva: Andre Oliveira
Selo: Antares SP
Distribuição: Tratore

VERTENTE

Maria Rita Stumpf
Voz: Maria Rita Stumpf
Arranjo, piano e teclados: Danilo Andrade
Percussão: Orlando Costa
Baixo, guitarra cítara: Kassin Kamal
Guitarra, drum machine, programações: Matheus Câmara

MATA VIRGEM

Raul Seixas e Tania Menna Barreto
Voz: Maria Rita Stumpf
Arranjo, violão, charango, violoncelo: Lui Coimbra

TROCA DE DONO (Cântico Brasileiro No 4)

Maria Rita Stumpf
Voz: Maria Rita Stumpf
Teclado , sintetizador, percussão, vocal: João Guilherme Boaventura
Baixo, produção musical: Francisco Maffei
Programações, guitarra: Matheus Câmara

O VENTO

Dorival Caymmi
Voz: Maria Rita Stumpf e Danilo Caymmi
Percussão: Marcos Suzano
Flauta: Danilo Caymmi

MELODIA DE VELUDO

Maria Rita Stumpf
Arranjo: Ricardo Bordini
Harpa: Cristina Braga
Clarinete: José Batista Júnior
Violoncelo: Gretel Paganini

PAVÃO MISTERYOZO

Ednardo
Voz: Maria Rita Stumpf
Arranjo: Farlley Derze e Danilo Andrade
Teclados: Farlley Derze
Piano: Danilo Andrade
Contrabaixo: André Santos

AÇAÍ

Djavan
Voz: Maria Rita Stumpf
Arranjo e teclados: Farlley Derze
Contrabaixo: André Santos

SAN VICENTE

Milton Nascimento/Fernando Brant
Voz: Maria Rita Stumpf
Arranjo: Farlley Derze e Maria Rita Stumpf
Teclados e percussão: Farlley Derze
Charango: Lui Coimbra
Percussão: Otávio Garcia

VERTENTE 1993

Maria Rita Stumpf
Arranjo: Farlley Derze e Maria Rita Stumpf
Teclados: Farlley Derze
Flauta: Eduardo Neves
Violino: André Santos
Crianças: Aninha, Bárbara, Beatriz, Caetano, Carolina, Fernando, Lina, Pedrinho

CÂNTICO BRASILEIRO No 3 (Musicanto Live 1984)

Maria Rita Stumpf
Voz: Maria Rita Stumpf
Arranjo: Maria Rita Stumpf e Mauro Podolak
Tumbadora: Mauro Podolak
Vocais e vagem: Zé Caradípia
Flautas, atabaque e garrafa: Quintal de Clorofila
Pau de chuva: Beto Bolo