“Manual das Decepções de Uma Vida Comum”: em segundo livro, Ana Elisa Granziera traz textos bem-humorados sobre os perrengues cotidianos

Lançada pela Mocho Edições, nova obra Manual das Decepções de Uma Vida Comum de autora paulistana traz narrativas despretensiosas e humoradas em formato híbrido, mesclando microcontos, poesia e cartum.

“Gosto de pensar que cada passo errado, cada caminho desviado, porta fechada ou tapa na cara, nos deixa um pouco mais perto do que é real — e não necessariamente mais feliz.”

Trecho da apresentação de
“Manual das Decepções de Uma Vida Comum”,
assinada por Tatiana Sabadini,
escritora, jornalista e professora de escrita criativa

Na introdução de “Trigger Warning”, Neil Gaiman comenta sobre o desconforto de lançar uma coletânea de contos sem nenhum tema que costure as histórias. A escritora paulistana Ana Elisa Granziera (@anaelisagg) quis fazer o contrário, mas não sabia que tema escolher. Numa conversa com o marido a respeito dos infortúnios da vida, ela disse: “Do jeito que minha vida anda, eu deveria escrever um livro de crônicas chamado ‘Manual das Decepções de Uma Vida Comum’. E nesta brincadeira, nasceu o segundo livro da autora, publicado pela Mocho Edições.

Nascida em 1979, Ana Elisa Granziera é escritora, ilustradora e aquarelista. Mora no Canadá desde 2017 e é autora do livro “Brutta Figura” (Chiado Books, 2020) e escreve no blog La Cucinetta (desde 2006), e na newsletter Boletos & Borboletas. Ilustrou livros infantis e didáticos no Brasil, expôs suas aquarelas em Toronto, e hoje é professora de arte em Ottawa, onde mora com o marido e dois filhos, personagens de suas crônicas e cartuns.

Com ilustrações da própria autora, o livro “Manual das Decepções de Uma Vida Comum” traz textos com diferentes formatos, como microcontos, poesia e cartum. “Logo no início do processo me dei conta de que algumas das histórias eram limitadas pelo formato da crônica, e teriam muito mais potencial se libertadas pela ficção. Abandonei a realidade em nome da narrativa, e comecei a experimentar”, explica a escritora.

Ana Elisa escreve e desenha desde que era criança. Publicou seu primeiro conto aos 15 anos, pelo Concurso Nacional Monteiro Lobato de Literatura Infantil. Aos 16 decidiu que queria ser escritora e começou a produzir textos de realidade fantástica.

Alguns anos depois, Ana Elisa fez um mochilão pela Itália, e passou a anotar todas as peripécias da viagem. A experiência a inspirou a criar seu blog La Cucinetta, recheado de pequenos textos e crônicas imensas, costurados por receitas. “Brutta Figura”, seu primeiro livro, conta a história dessa viagem que abriu nela novamente a veia da escrita.

“A experiência de escrever publicamente num blog por quinze anos me fez olhar para os fracassos e tropeços da vida com mais interesse”, conta a autora. “Manual das Decepções de Uma Vida Comum” trata com humor daquelas decepções que se suavizam com o tempo e viram histórias contadas em mesa de bar”.

Apaixonada por autores como Clarice Lispector, Fernanda Young, Elena Ferrante, Neil Gaiman, Kurt Vonnegut, Luís Fernando Veríssimo, E.E. cummings e José Saramago, Ana Elisa recorre ao fluxo de consciência com a sua própria escrita. Preenche uma página e depois volta para reescrever, picotar e reconstruir. “Não me dou bem com escaletas, fichas de personagem, ou qualquer estrutura pré-montada”, afirma a autora.

Ana Elisa é professora de artes em duas escolas diferentes, artista freelancer e tem dois filhos: seu momento de escrever é quando for possível. “Escrevi quase um livro inteiro de poemas no meu diário às três da manhã, num período de insônia”, conta. No momento está trabalhando em três projetos: um romance, uma coletânea de crônicas e um livro com cartuns, ilustrando suas peripécias antes e depois dos filhos. Ela também publica crônicas e cartuns em sua newsletter semanal.

Manual das Decepções
Capa do livro Manual das Decepções de Uma Vida Comum

Confira o poema “O sono”, que integra “Manual das Decepções de Uma Vida Comum” :

Um banho relaxante,
Uma xícara de chá.
Cheiro de hidratante nos antebraços.
As páginas do livro se dissolvem na meia-luz.
O clique do abajur.
O escuro esfria o corpo por debaixo do lençol.
Cobertas que abraçam.
Um suspiro longo que abre a boca num bocejo.
Costas pesadas no colchão.
Travesseiro de lavanda.
Rosto suave, sem expressão.
Uma imagem de sonho por trás das pálpebras.
Não lembro se paguei a conta de luz.
Ela não respondeu meu Whats.
Acho que preenchi o formulário errado.
Deixei roupa no varal e vai chover.
Puta que pariu.
Não consigo dormir.

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