Kawana despeja seu grande espetáculo musical em novo disco. “Despertáculo” traz a epopeia de ser artista periférica e mulher
“Saúde, bem-estar e inteligência, fazem uma mulher prosperar”, é assim que canta Kawana na canção “Fluxos Sanguíneos”, que está no primeiro disco da artista “Despertáculo”, que sai com apoio da Secretaria de Cultura de Brasília, pelo edital do FAC. O álbum é uma seleção de músicas que contam a história de Kawana, uma mulher periférica de Planaltina (DF), com uma família que atravessou por muitos desafios e que narram a epopeia de uma mulher que trabalha com música.
O título, “Despertáculo” é inspirado na obra do poeta goiano Pio Vargas e tem o sentido de um despertar gigante, um espetáculo. “Do aprimoramento do meu potencial feminino em conjunto dessa revolução, da percepção do quanto sou capaz de me reinventar e aprender”, revela a artista, que continua:
“Me identifiquei com a escrita dele de imediato quando o Adalberto [Rabelo] me apresentou as obras dele. Acabei escrevendo algumas letras trazendo esse mesmo conceito imaginário de associar sentidos e acontecimentos de uma forma figurativa, sinestésica até. Adentrando estes fatos o nome ‘Despertáculo’ caiu como uma luva dentro dos acontecimentos que eu estava vivenciando e com a maneira que eu estava me sentindo. Como se um véu fosse retirado da frente dos meus olhos para ver a vida diferente e com mais clareza”, explica Kawana.
Foi a internet acabou unindo o supracitado diretor musical e produtor Adalberto Rabelo, que já trabalhou com artistas como Wado, Vespas Mandarinas, Maria Alcina, Jards Macalé, entre outros grandes nomes da MPB e rock nacional. “A Kawana tem um timbre de voz diferente, com uma pegada moderna, que foi o que primeiro chamou a atenção. Também sempre teve o talento pra compor, que acho que evoluiu e amadureceu muito durante o processo, absorvendo referências, ouvindo toques, ampliando o conhecimento musical.
Músicas como “Nova Pele”, em que ela cita Silvia Federici, por exemplo. O time que juntamos também foi parte essencial, em destaque o Vitor Fernandes. Com esse dream team na mão, a gente já sabia que podia ficar à vontade. Então, tem muita referência escondida ali, como D´Angelo, Ile, Songhoy Blues que penso que universalizam ainda mais o som dela. Da minha parte, espero ter contribuído um pouco pro sucesso que tenho certeza que vem aí, comenta Rabelo.
A artista faz uso de muitas metáforas em seu trabalho e trata especialmente do fato de ser mulher. Em “Quarta Onda”, “Fluxos Sanguíneos”, “Flores e Bombons” e “Nova Pele” vai de encontro à temática e a última acabou por trazer problemas para ela e para a família, por ter sido lida de forma literal. Pois canta: “Deixa ela andar na rua, nua, careca, contemplando a lua sem medo de se aventurar… O seu caminhar resseca a carne crua. Trazendo nova pele, dourada e resistente, impossível de sangrar”.
“Senti que trouxeram perseguições e não “críticas” ao meu trabalho e a minha origem também. É como se a cultura estivesse em processo de desenvolvimento e as cidades satélites estivessem lutando para se incluir, sendo que se nos uníssemos seria mais fácil e trariam oportunidades maiores. O machismo ainda é muito grande também. Senti que minha família foi afetada justamente porque eu fui mal interpretada em vários sentidos e alguns chegaram a sentir vergonha de mim. Dizendo que eu estava incentivando mulheres a andarem nuas nas ruas. Outras pessoas que eu nem sei porque e eu nem conheço, inventaram coisas sobre mim, me desejaram o mal. Mas hoje, nem ligo mais. Não quero ninguém afirmando quem sou. As pessoas têm direito de pensarem o que quiserem. Prefiro focar nas pessoas boas que ficaram e em outras que ainda vou conhecer”, comenta Kawana.
Passeando pelo rap, reggae, MPB, funk e soul, o disco é uma miscelânea de ritmos que revelam também um pouco das influências que passam por Damian Marley, Dezarie, The Roots, Bee Gees e em especial Elza Soares: “Me inspirei na história de Elza Soares em algumas letras. Fiquei muito triste quando ela faleceu. Para mim ela venceu em vários quesitos pelas inúmeras batalhas que foi capaz de enfrentar e merece respeito eterno por isso. Nós viemos de um planeta parecido”, conta Kawana, que é de Planaltina, mas passou grande parte da sua vida no Vale do Amanhecer, bairro da região administrativa.
Mas não é só machismo estrutural ou feminismo que canta Kawana, a artista também fala de relacionamentos em “Despertáculo” (amor indeciso), “Mundo Insano” (amor entre classes sociais) e “Deuses e Adeuses” (amores líquidos); trata de depressão em “Amitriptilina” (nome do remédio que a mãe utilizou quando teve a doença) e do alto volume de informações que somos bombardeados em “Tsunami”.
“Despertáculo”, o disco, tem produção e direção musical de Adalberto Rabelo (Judas), foi mixado e masterizado por Bruno Brites no Estúdio Fumarte, produção executiva de Lucas Formiga, assistente administrativa Cristiane Martins e banda formada por Carlos Beleza(Guitarra), Vitor Fernandes(Guitarra e violão), Thiago Cunha (bateria), Bruno Brites (baixo) , Hélio Miranda(Teclado), Dinho Lacerda(Percussão).
Escute “Despertáculo” em todas as plataformas de streaming.
Redes Sociais
Instagram: https://www.instagram.com/kawana.mendes/
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCFdXqftOgP5biYpfwzPKJdQ
Mais sobre Kawana
Kawana é alcunha de Gabriela de Freitas Mendes, artista de Planaltina (DF), na escola pública desenvolveu o seu gosto pela arte e passou a escrever letras e poemas. Foi backing vocal de uma banda na adolescência, mas começou mesmo a carreira com 20 anos tocando em barzinhos da cidade.
Hoje estuda violão no Clube do Choro e canto popular na Escola de Música de Brasília. Já passou pelos projetos Arte na Praça, Rua do Lazer e Virada do Cerrado. Em seu primeiro trabalho solo, “Despertáculo” conta a sua trajetória enquanto mulher periférica na música, passando pelo rap, reggae, MPB, funk e soul. O disco tem como produtor Adalberto Rabelo, que já trabalhou com bandas como Vespas Mandarinas, Wado, Maria Alcina e Jards Macalé.