O Festival Latinidades celebra sua 17ª edição em Brasília de 25 a 27 de julho, destacando a força transformadora das mulheres negras com debates, música e exposições

O Latinidades encerra o mês das mulheres negras com sua 17ª edição em Brasília. Responsável por amplificar a visibilidade do 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha no Brasil, o encontro é considerado o maior evento de mulheres negras da América Latina, e este ano enaltece a força transformadora delas, fazendo um chamado: Vem Ser Fã de Mulheres Negras. A edição é realizada pela Rede Afrolatinas e pela Funarte, por meio do Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas 2023. Com o patrocínio da Caixa Econômica e Ambev e Apoio dos Correios, a capital federal levará o público a uma jornada pela música, moda, humor, literatura e ancestralidade em três dias de festival, de 25 a 27 de julho.

Esta edição presta homenagem a mulheres que abriram caminhos para artistas negras no Brasil e no mundo — como a rainha do reggae Rita Marley, cantora cubana e CEO de fundações em prol da luta contra pobreza e a fome, Sister Nancy, cantora, compositora e DJ jamaicana, conhecida como a rainha do dancehall, e duas brasileiras a mãe da bossa nova Alaíde Costa e Sandra Sá, artista considerada a rainha do soul.

Com o objetivo de amplificar vozes e talentos que muitas vezes são marginalizados ou apagados, em 2024 Latinidades leva o foco para a discussão sobre o trabalho das trancistas brasileiras, em defesa de sua regulamentação e de seu reconhecimento como patrimônio cultural. As atividades em Brasília iniciam com a mesa de debate Trancistas – patrimônio cultural, economia criativa e trabalho, realizada em parceria com o Instituto Fios da Ancestralidade e com a Casa Comum. No debatem busca-se compreender a prática de trançar enquanto ofício tradicional afro-brasileiro exercido historicamente por mulheres negras, destacando-se a importância de políticas de regulamentação trabalhista que contribuam para reparações históricas, como direito à memória para trancistas, profissionais que resguardam a história do país nos penteados.

Ainda no dia 25, o Festival Latinidades inaugura a exposição interativa-imersiva Afrolatinas – 30 anos em Movimentos, no Museu Nacional da República, que contará a história do Dia da Mulher Negra e das lutas coletivas após 30 anos de sua criação. O encontro também terá uma sessão especial do documentário Afrolatinas – 30 Anos em Movimentos, dirigido por Viviane Ferreira, cineasta, ex-presidente da SPCine e diretora do filme Ó Paí Ó 2. O material apresenta a história e os desdobramentos políticos e sociais do primeiro Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, realizado em 1992 na República Dominicana, quando foi estabelecido o Dia da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha em 25 de julho. A narrativa aborda a origem do Latinidades, mostrando como o festival se tornou uma plataforma multilinguagens que divulga, impulsiona e gera renda para a produção artística e intelectual de mulheres negras.

O longa é acompanhado por uma experiência imersiva desenvolvida em uma plataforma de jogos de realidade virtual, que permite ao público acessar a partir da escolha de universos da natureza – a mata, a terra e a água, traduzidos como elementos mágicos —, depoimentos inéditos de mulheres negras, ativistas e importantes lideranças na luta por equidade de gênero e raça que revivem a história dos movimentos sociopolíticos.

Resgatando a estratégia de engajamento para a realização do primeiro encontro de 1992, o Latinidades firmou uma parceria inédita com os Correios. No dia 25 será lançado oficialmente o Selo do Dia da Mulher Afro-Latino Americana e Caribenha. O público que estiver no Museu Nacional da República será convidado a escrever uma carta para uma mulher negra que admire e enviá-la.

Já na sexta, dia 26, comunicadoras negras se reúnem na mesa Mulheres Negras na Mídia: Inovação e Impacto na Comunicação Pública para compartilhar suas experiências pessoais no mundo da comunicação, refletindo os desafios impostos pela intersecção do racismo, sexismo e misoginia. A ideia é fazer pensar as possibilidades de futuro com mais participação das mulheres negras em diferentes processos comunicacionais. Ao final do debate serão definidas as vencedores de duas premiações: Jornalista Negras, em que estão concorrendo Basilia Rodrigues (CNN), Juliana Cézar Nunes (EBC) e Maju (Rede Globo), e Mídia Negras, disputada por Cultne, Revista Afirmativa, Alma Preta, Mundo Negro e Africanize.

Nesse mesmo dia, Sueide Kintê e Sueli Kintê irão conduzir a aula show Folha Funciona, uma imersão sobre a produção de fitoterápicos e fitoenergéticos, a partir de folhas comuns, que são utilizadas na culinária. A atividade acontece na Galeria 2 do Museu Nacional, e propõe uma experiência sensorial, combinando conhecimentos ancestrais, práticas tradicionais e música. Na sequência, em parceria com embaixadas de 20 países africanos, o evento apresenta Fashion Show, um desfile expondo a moda de cada região, que acontece ao som da DJ Odara. A atividade acontece na Galeria 3 do Museu Nacional.

A Mostra Humor Negro apresenta um stand-up comedy com artistas negras no Auditório II, começando com Tatá Mendonça e seu show Cega na Comédia. A humorista é deficiente visual e, por meio de sua apresentação, diverte e conscientiza o público sobre o cotidiano de uma pessoa cega, seus relacionamentos e críticas ao capacitismo em suas mais diversas formas. A segunda apresentação da noite é da humorista Bruna Braga, com o texto Medicada ela é ÓTIMA. A artista é jurada do Drag Race Brasil, roteirista, atriz e comunicadora desde 2017. Encerrando a Mostra, a humorista brasiliense Niny Magalhães apresenta o show Uma Mãe Vida Loka.

As primeiras performances musicais do Festival Latinidades em Brasília acontecem na noite de sexta com o show Nós Negras, grupo de samba formado por cinco cantoras que se reuniram com a proposta de mostrar a força de se utilizar sua voz e talento para falar de negritude, destacando a ancestralidade da mulher no samba brasileiro. Na sequência, será a vez de uma das homenageadas subir no palco do Latinidades; a cantora e compositora Sandra Sá interpreta diversos ritmos, como MPB, soul, samba, funk e clássicos de seu repertório.

No sábado, as crianças terão uma programação especial. A partir das 14h, o Anexo do Museu Nacional recebe o Espaço infantil com brincadeiras e atividades, começando pelo Jardim de Contos, com contação de histórias e criação de quadros botânicos, conduzidos por Lauane Lopes que, desde sua adolescência, encantava crianças com narrativas cativantes. Durante a tarde, os pequenos também poderão participar da Oficina de Break, com Fab Girl, além de fazer Pintura de Rosto, com a artista Mayara Benigno. E para finalizar, a educadora e designer de moda Grasi Medeiros fará a Oficina de Pulseirinhas da Amizade.

No mesmo horário, o Auditório II recebe a atividade IV Julho das Pretas que Escrevem no DF, que destaca a produção literária de autoria negra feminina com a proposta de reunir escritoras, sob o tema Nosso lugar é de fala – escrita, verbalizada, nunca mais engavetada. O projeto foi idealizado pela escritora e jornalista Waleska Barbosa e, nesta quarta edição, a ideia é também atrair mulheres pretas que atuam em outras frentes da cadeia produtiva da literatura como ilustradoras, diagramadoras e editoras. Durante a atividade haverá performances artísticas, sarau, exposição e venda de livros, além da já tradicional homenagem a mulheres escritoras. Este ano, serão agraciadas estas poetas, romancistas e cronistas: as irmãs Lourdes e Jovina Teodoro, Conceição Freitas, Norma Hamilton, Adelaide Paula, Elisa Mattos e Ailin Talibah.

O encerramento do Latinidades acontecerá dia 27 de julho, com intensa programação musical na área externa, com grandes apresentações de artistas negras da América Latina, África e Caribe, iniciando com Alaíde Costa, um dos maiores nomes da música nacional, que chega aos 88 anos encantando plateias com sua voz delicada. Na sequência a cantora, compositora e multi-instrumentista brasileira Bia Ferreira apresenta suas letras que tratam de temas como necropolítica, cotas raciais, antirracismo e direitos LGBTQIAP+, por meio de uma combinação de ritmos afrodiaspóricos — soul, R&B e rap com samba e repente. A cubana La Dame Blanche (foto) volta ao palco do Latinidades, após espetáculo em São Paulo, para realizar seu primeiro show em Brasília, levando sua música afro-cubana nativa, influenciada pelas batidas de hip hop, trap, reggae e reggaeton.

Sister Nancy é uma das maiores referências do reggae jamaicano e também faz parte do lineup do festival. A cantora é a dona do clássico “Bam Bam”, que se tornou um hino do reggae e um dos samples mais usados na história da música, aparecendo em várias canções de hip-hop e dancehall. A vencedora do Grammy Latino 2023 Gaby Amarantos vai se apresentar logo em seguida, com seu TecnoShow. A paraense é uma das responsáveis pela difusão do tecnobrega mundialmente.

A noite ainda terá a rapper e gamer Ebony e a rainha do Kuduro, Pongo, artista angolana que se destacou em bandas com o Denon Squad e Buraka Som Sistema. Agora em carreira solo é aclamada pela crítica com sua combinação de kuduro, pop e EDM, vertente da música eletrônica. E para encerrar o evento, o palco do Festival Latinidades receberá as Irmãs de Pau, dupla composta por Vita Pereira e Isma Almeida, da zona oeste de São Paulo e pesquisadoras das Estéticas Sonoras e Visuais da Putaria Brasileira. As artistas transitam em múltiplos gêneros como o drill, vogue, eletrônica e pop, tendo o funk como ligação central das suas obras. Com um bass line intenso e uma viagem pelas vertentes da música negra, as DJs Kethlen e Savana vão comandar o som durante os intervalos dos shows.

Instituto Afrolatinas

O Instituto Afrolatinas é uma organização de mulheres negras que desenvolve ações transversais a partir da educação, das artes, da cultura e da comunicação. Atua para articular e fortalecer diferentes saberes: nas artes, na academia, na rua, em casa, na escola, no chão de fábrica, na comunicação, nos movimentos sociais. Acredita no papel cidadão, político, econômico, inclusivo e inventivo da educação, das artes e da cultura, diante das transformações que o mundo necessita.