Ainda estamos esperando um salvador? Precisamos ser salvos? Estes questionamentos são o mote inicial do trabalho da companhia IPADÊ, que culmina no espetáculo ENCANTARIA.
O Brasil teve seu projeto de nação construído a partir do pensamento colonial firmado e reafirmado por grupos que se mantiveram no poder, formados, geralmente, por homens brancos e ricos, que comumente não reconheceram a pluralidade cultural brasileira e impuseram suas ideias de forma unilateral, silenciando outros ângulos e possibilidades de leitura do todo.
O sistema de governo republicano sob o qual vivemos, desde sua implantação, se estruturou através de pensamentos eugenistas que defendiam, enquanto projeto de nação, o embranquecimento do povo como símbolo da evolução do país. As consequências desses pensamentos são percebidas ainda na forma do racismo. Assim, torna-se necessário que grupos de matrizes culturais diversas busquem espaços em que possam ecoar outras narrativas acerca da história do Brasil, da cultura brasileira e das várias noções de brasilidade que o país comporta.
Com base nessas reflexões, nasceu o espetáculo “Encantaria”, que entra em cartaz em curta temporada no Teatro SESC Paulo Autran, em Taguatinga-DF. A obra reflete sobre o Messianismo Sebastianista, que, com o passar dos séculos, explica muito o comportamento político e social da humanidade.
Vindo de Portugal, o fenômeno “Sebastianismo” aportou em terras brasileiras e se manifestou de diferentes formas, o que demonstra nossa pluralidade de matrizes culturais (africana, ameríndia e europeia) que ecoam por todo o país, assumindo diferentes formas e combinações.
Para dar base a narrativa messiânica, Dom Sebastião, coroado rei de Portugal no séc. XVI, desde seu nascimento, carregou consigo a imagem de predestinado a salvar o reino fragilizado que havia herdado. Em 1578, ao enfrentar uma batalha na “guerra santa” de Alcácer-Quibir, no Marrocos, fora visto pela última vez, montado em seu cavalo adentrando as fileiras do exército inimigo. Seu corpo nunca foi encontrado, o que deu margem para que surgissem teorias de que ele havia se ‘encantado’, e que voltaria para restaurar as glórias ao reino de Portugal.
O espetáculo apresenta a discussão do Sebastianismo para problematizar a inércia do povo diante dos problemas sociais, numa mistura de poesia, luta de classes, utopia e diálogo com a sociedade contemporânea.
O mito do salvador se reinventa, ressignifica e sempre reacende a expectativa do povo por soluções simples e imediatas, questões que exigem soluções por meio de ações coletivas, são entregues a figuras que resolveriam problemas seculares de forma mágica.
A partir desse recorte poético e histórico, o espetáculo lança uma pergunta ao público: Precisamos de um salvador?
O diretor Ricardo César pretende provocar o interesse ao conhecimento e reflexão sobre os percursos históricos do nosso país, para compreensão e colaboração na evolução do presente e na esperança embasada de um futuro mais promissor. O espetáculo conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.
FICHA TÉCNICA
Direção – Ricardo César
Dramaturgia – Paulo Duro Moraes
Elenco – Alex Bernardo, Banzo, Bruno Farias, Flávia Neiva, Mirabai, Pedro Ribeiro, Sandra Regina e Silvia Viana
Participação Especial – Martin Filho
Cenografia – Maria Carmem – Atelier Cenográfico T. Goldoni
Figurinos e adereços – Luazi Luango
Iluminação – Valdeci Moreira
Sonoplastia e música de cena – Ricardo César
Projeto e gestão de patrocínio: C1 arte e entretenimento
Auxiliar administrativo: Vagner Lopes
Produção: Paula Jacobson e Luiz Antonio Pereira
SERVIÇO:
Data das apresentações:
De 15 a 18 de outubro de 2022
Sábado às 20h
Domingo às 19h
Segunda-feira às 14h30, 16h e 20h (exclusiva para estudantes)
Terça-feira às 20h (exclusiva para estudantes)
Local:
Teatro SESC Paulo Autran – Taguatinga (CNB 12, área especial 2/3, Taguatinga Norte)