“Dentes de leite”, novo livro do catarinense Antonio Pokrywiecki, explora, entre o cômico e o absurdo, a consciência atormentada de uma geração que teme o futuro
“Narrador seguro e preciso, Pokrywiecki, mais do que oferecer extrações, sabe que sobre um relato sempre deve pairar a presença de uma ameaça. E outras imagens asseguram o disseminar da paranoia contemporânea nas sete histórias de ‘Dentes de leite’.”
Orelha assinada pelo premiado escritor Joca Reiners Terron
“Dentes de leite”, novo livro do escritor catarinense Antonio Pokrywiecki (@antonio.pokrywiecki) aborda como a psique humana está sujeita aos efeitos da incerteza do futuro, do medo do fim do mundo e das pressões da ideologia neoliberal. Publicado pela editora Cachalote (144 pág.), selo do grupo editorial Aboio criado em parceria com a Lavoura Editorial, a obra conta com a orelha assinada pelo escritor Joca Reiners Terron.
Antonio usa da sátira e do potencial inventivo do conto para desafiar as fronteiras do realismo e explorar o quanto a vida moderna pode parecer insólita. A palavra crise guia os sete contos do livro. “Após escrever, me dei conta de que todos os contos tratam de personagens em que algo falta, e a pulsão de morte de alguma maneira se manifesta. Para todos os personagens, há algo fora do lugar – como um dente arrancado”, comenta Antonio.
Esse deslocamento também é trabalhado na estrutura do livro em si. Segundo o autor, os contos serem bem fragmentados em sua maioria é resultado de uma escolha formal para refletir a realidade fragmentada em que vivemos. A proposta de fragmentação das narrativas não é um impedimento para Antonio produzir uma escrita certeira, direta e irônica. Nesse sentido, Joca Reiners Terron destaca: “É com extrema paciência que ele extrai do leitor suas prevenções e medos. Com o método e a lisura do dentista realizando seu trabalho num paciente sentado na cadeira elétrica”.
Medo do futuro, capitalismo tardio e neoliberalismo
O medo do futuro é um tema que permeia quase todos os contos em “Dentes de leite”. Em “O anjo exterminador”, um conto pandêmico – embora não cite a pandemia de 2020 -, o fim do mundo é assistido pelas janelas de um apartamento e ganha contornos de punição divina. Enquanto em “O balneário”, não é Deus, mas o progresso humano e a construção civil que arruinam a natureza.
Já no conto “Nico e Kira”, acompanhamos a saga de um casal que tem suas vidas impactadas pelo avanço tecnológico quando Nico é substituído em seu emprego na fábrica de colchões por uma máquina alemã. Diante da insegurança financeira, do medo que Kira também perca seu sustento, o casal, sem conseguir verbalizar seus tormentos, busca uma fuga individual nos prazeres.
Já em “Dentes de leite”, conto que nomeia a obra, acompanhamos a saga de um menino que tem os dentes arrancados em um episódio de bullying, na escola. O conto explora as raízes do comportamento de uma psique moldada pela consciência de uma inferioridade surgida na infância, explorando também a natureza humana.
Para Antonio Pokrywiecki, é impossível falar do fim do mundo, o sintoma, sem mencionar a doença, a ideologia de progresso. A opressão pelo trabalho contemporâneo é explorada no conto que fecha o livro, “Ilusões perdidas”. Cheio de bordões satirizando o Vale do Silício, o texto apresenta uma startup acometida por uma crise financeira e institucional sem precedentes. Em um cargo de gerência, o protagonista Arturo, deve buscar caminhos para superar a situação, e gerar uma boa percepção interna.
A escrita minuciosa de Antonio Pokrywiecki
Natural de Joinville (SC), Antonio Pokrywiecki vive atualmente em São Paulo, capital. Jornalista de formação e escritor de ficção, estreou com o romance “Tua roupa em outros quartos” (Patuá, 2017) e tem contos publicados nas antologias “2020, o ano que não começou” (Reformatório, 2021), “Antologia – Contos” (Selo Off Flip, 2022) e “Realidades Estilhaçadas” (Mondru, 2023).
Escreve desde 2014, quando intensificou seu contato com a literatura contemporânea. “Dentes de leite” surgiu após ele decidir voltar a escrever contos como uma forma de reencontrar a diversão na escrita. “Entre o primeiro conto e o último, o livro, em uma rotina quase diária de escrita, revisão e reescrita, levou quatro anos para ser finalizado”, comenta o escritor, sobre seu processo criativo.
Suas principais influências literárias são J.M. Coetzee, Roberto Bolaño, Rubem Fonseca, Carola Saavedra, Lydia Davis, Ali Smith, Donald Barthelme, Thomas Pynchon, George Saunders e Georges Perec.
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