Loreni Schenkel explora sua memĂłria infantil em narrativa artĂstico-psicanalĂtica na exposição Aquilo da infância que ficou pelo caminho que poderĂĄ ser conferida em mostra na galeria Rubem Valentim a partir de 14 de setembro.
Pintura, fotografia e escultura. A exposição da artista visual Loreni Schenkel, com curadoria de RogĂŠrio de Carvalho, apresenta essas linguagens, em variados suportes que resgatam âAquilo da infância que ficou pelo caminhoâ. A mostra, que poderĂĄ ser conferida a partir de 13 de setembro na galeria Rubem Valentim, no Espaço Cultural Renato Russo, embora autobiogrĂĄficaâpara a artista estĂĄ mais para âpsicanalĂticaâ –, propĂľe um mergulho nas lembranças vividas quando se ĂŠ criança e que marcam de maneira definitiva os seres humanos.
âEstas lembranças sempre estiveram presentes, mas eu precisava organizĂĄ-las dentro de mim. Entender nossa infância ĂŠ entender o prĂłprio coração. A resposta para muito do que somos muitas vezes estĂĄ lĂĄ, guardada nas perdas, rupturas, traumas, e tambĂŠm no aconchego, em sabores, texturas, sensaçþes…. Nossa vida adulta tem muito mais de infância do que imaginamos e esta exposição ĂŠ um convite a essa reflexĂŁoâ, afirma Loreni.
ĂrfĂŁ de mĂŁe aos 10 anos, Loreni viveu uma tormenta emocional nessa ĂŠpoca. A ausĂŞncia da figura materna; o trabalho na roça ao lado dos irmĂŁos, para ajudar no sustento da casa; o pai que se fazia de forte, mas que chorava aos soluços de saudade da esposa; a falta de sutileza de alguns parentes em lidar com a menina que nĂŁo largava uma fralda (zeta) por guardar ali o cheiro da mĂŁe, e nĂŁo por se negar a crescer; a violĂŞncia do abate de porcos e gado que presenciava na realidade do mundo rural; a solidĂŁo de uma estrada de barro que trilhou em busca do aconchego da casa da avĂł, onde se aninhava nĂŁo apenas em seu abraço carinhoso, mas nas proximidades do fogĂŁo a lenha, sempre quentinho e cozinhando algo saboroso, lentamente….
Como num quebra-cabeças– que se tornou literal–, Loreni foi moldando, pintando, fotografando imagens que remontam a esse perĂodo tĂŁo crucial de sua existĂŞncia. Em meio a elaboração das obras, uma queda dentro de casa resultou em uma fratura craniana. âDurante trĂŞs meses nĂŁo pude fazer nada alĂŠm de pensar. E pensei muito. O episĂłdio foi parar na exposição, acrescentando mais um material ao meu trabalho. Usei as inĂşmeras radiografias de meu crânio fraturado para unir a menina e a mulher, revelar como uma sempre viverĂĄ dentro da outra e compreender que sĂł podemos ser inteiros respeitando nossas cicatrizesâ.
As obras de arte exigiram de Loreni nĂŁo apenas um profundo mergulho em si mesma, mas o desenvolvimento de modos de trabalho ainda nĂŁo experimentados. âA arte ĂŠ fruto de muito trabalho, pesquisa, aprimoramento e estudo. Essa mostra me desafiou demais e eu tive que buscar mais e novas formas para me expressar, alĂŠm daquelas com as quais tinha mais intimidade. Ă o caso da fotografia. âNo final, nĂŁo ĂŠ sĂł inspiração, dom e talento. Ă entrega verdadeiraâ, declara
Com duas exposiçþes individuais e três coletivas, Loreni parte agora para a mostra mais completa de sua carreira. Em novembro tambÊm levarå o seu trabalho para São Paulo, em uma mostra ainda em construção.
SERVIĂO:
Aquilo da infância que ficou pelo caminho
Galeria Rubem Valentim- Espaço Cultural Renato Russo
Abertura
13/09, Ă s 19h
Visitação
AtÊ 30/10, de terça à sexta, das 10 às 20h
