anonimATO, montagem da Cia. Mungunzá de Teatro, desvenda o anonimato urbano em espetáculo de rua no Sesc Belenzinho, com direção de Rogério Tarifa

Uma ode ao teatro. É assim que a Cia. Mungunzá de Teatro anuncia seu primeiro trabalho concebido para a rua. Com direção de Rogério Tarifa, anonimATO volta a se apresentar em São Paulo, dessa vez no Sesc Belenzinho, em duas apresentações gratuitas nos dias 17 e 18 de fevereiro, sábado e domingo, às 17h. Em um cortejo de 100 metros em linha reta, o espetáculo, uma homenagem ao fazer teatral, reúne 15 artistas em grandes instalações.

O espetáculo também é o primeiro musical do grupo paulistano, já que quase todos os textos foram musicados, além de contar com uma banda em cena. Para isso, anonimATO conta com direção musical e trilha sonora original de Carlos Zimbher. A junção de palavra e canto, uma das marcas da direção de Rogério Tarifa, teve o trabalho de Lucia Gayotto e Natália Nery na direção vocal interpretativa e composição musical do coro.

Idealizado inicialmente para debater o anonimato, a montagem de anonimATO foi se transformando ao longo dos ensaios até chegar com foco no ato e nas manifestações. No espetáculo oito personagens, figuras anônimas de uma cidade grande, são convocados de várias maneiras para um ato e se encontram nessa caminhada.

Os oito personagens – a mãe, a mulher-árvore, a vendedora de sonhos, o homem-placa, o pipoqueiro, o trabalhador, o homem que é “todo mundo” e a mulher que é “ninguém” – representam a multidão presente no ato e vão se transformando durante a caminhada. Para o diretor Rogério Tarifa o espetáculo tem um tom fabular a partir do momento que o ato vai se teatralizando. “anonimATO fala sobre a retomada do teatro como lugar de encontro após a pandemia. Nesse trecho de 100 metros são apresentadas muitas metáforas sobre o acontecimento teatral”, explica ele.

Já o ator Marcos Felipe conta que após o espetáculo Epidemia Prata, que apontava vários problemas sociais e a dureza das pessoas, a ideia com anonimATO é trazer para a cena mais esperança e utopia. “A montagem é um ponto de virada do grupo, pois saímos do seguro e adentramos em outras camadas de poesia. A Mungunzá junto com o Rogério Tarifa tenta descobrir o que é parir e matar o Teatro”.

Perna de pau e butô

A atriz e dramaturga Verônica Gentilin ficou responsável pela elaboração final da dramaturgia. Em cima de textos produzidos pelo elenco e direção, Verônica foi criando novos textos. “Não foi um trabalho de emendas ou colagens, mas de atenção literária para a elaboração do macro”, acrescenta ela.

Em sua dramaturgia Verônica apresenta personagens utópicos, repletos de esperança, e a partir disso criou histórias sem compromissos com a realidade. “Os personagens vão se transformando ao longo do ato e do percurso que participam. De seres anônimos e invisíveis eles têm suas histórias contadas como alegorias. São diferentes, mas formam um coletivo e assim formam mais uma metáfora do teatro”, pontua a dramaturga.

anonimATO leva para a cena um ato, um teatro, um encontro. Com grandes instalações, bonecos, perna de pau, figurino inflável, música e movimentação, o espetáculo é uma mescla de linguagens. Os artistas também se inspiraram no butô, dança que surgiu no Japão pós-guerra e ganhou o mundo na década de 1970, para as caminhadas no percurso de 100 metros. Para isso contaram com a orientação de Marilda Alface.

Sobre a Cia. Mungunzá de Teatro

A Cia. Mungunzá de Teatro iniciou suas atividades em 2008, com uma pesquisa realizada em parceria com o diretor Nelson Baskerville, em torno do teatro épico de Bertolt Brecht, que gerou o espetáculo Por que a criança cozinha na polenta?. Entre 2008 e 2010, a peça realizou temporadas em São Paulo e participou de festivais em todo o Brasil, recebendo mais de 30 prêmios. Entre 2011 e 2013, também com a direção de Nelson Baskerville, a companhia realizou o premiado Luis Antonio–Gabriela, que narrava a história de transformação do irmão de Nelson Baskerville na travesti Gabriela. Concebido na perspectiva do teatro-documentário ou documentário cênico, Luis Antonio-Gabriela fez temporadas em São Paulo, além de circular por todo o Brasil e fazer apresentações em Portugal recebendo vários prêmios, entre eles o Shell e o APCA, o da Cooperativa Paulista de Teatro e o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. Em 2015 estreia Era uma Era, que inaugura o repertório infantil da Cia. e no mesmo ano, o grupo leva aos palcos Poema Suspenso para uma Cidade em Queda, onde desdobra o tema da família em uma pesquisa sobre os relicários pessoais dos atores e pedaços de histórias, que se unem a experiências universais.

Em 2017, a Cia. inaugura o Teatro de Contêiner Mungunzá, formado por 11 contêineres marítimos em um antigo terreno abandonado no bairro da Luz, centro da cidade de São Paulo. O espaço foi o vencedor do Prêmio APCA na categoria especial de teatro e um dos indicados ao Prêmio Shell de inovação pelo uso arquitetônico inédito voltado para o teatro, inserido na região degradada do centro da capital paulista. Já em 2018, o grupo estreia Epidemia Prata, com direção de Georgette Fadel, que comemora 10 anos do coletivo e devolve ao público de forma engajada e poética a experiência vivida em um ano no centro de São Paulo, desde a criação do espaço na região da Luz. No mesmo ano, a Cia. lança o livro-arte sobre os 10 anos do grupo – Mungunzá: Obá! Produção Teatral em Zona de Fronteira… – com assinatura do pesquisador teatral Alexandre Mate e colaboração de José Cetra.

No início de 2020, Epidemia Prata é encenado na Índia no Festival Internacional de Teatro de Kerala e em maio a Cia. Mungunzá de Teatro lança a Mungunzá Digital, uma plataforma virtual com uma programação eclética de conteúdos artísticos, culturais e sociais, pesquisas e projetos de variados artistas, criando um vasto acervo que abre espaço para conversas e aprofundamento nas obras e conteúdos dispostos. O grupo também estreia Poema em Queda-Live, espetáculo em três episódios concebido para o universo digital com diversas tecnologias, como softwares de Live Streaming, Vídeo Mapping, manipulação ao vivo de imagens, para de forma inovadora combinar a essência do teatro a diversas formas de artes digitais. Em 2022, a Mungunzá estreia anonimATO, primeiro trabalho concebido para a rua e primeiro musical com direção de Rogério Tarifa e em 2023 estreia Cena Ouro – Epide(r)mia com direção tripla de Georgette Fadel, Cris Rocha e Tânia Granussi e participação de sete não atores, pessoas que trabalham ou moram na região conhecida como “Cracolândia”, no Centro de São Paulo, para evidenciar o que não é mostrado sobre esse território. A nova montagem integrará a programação do Festival C’est Pas Du Luxe, em Avignon, na França.

Serviço:

anonimATO
Espetáculo de rua da Cia. Mungunzá de Teatro.
Dias 17 e 18 de fevereiro, sábado e domingo, às 17h.
Sesc Belenzinho [Praça Central] – Rua Padre Adelino, 1000 – Belenzinho, São Paulo. Telefone – (11) 2076-9700.
90 minutos | Livre | Gratuito.

Direção – Rogério Tarifa. Argumento – Pedro das Oliveiras. Dramaturgia – Verônica Gentilin. Textos (base para dramaturgia) – Elenco, Rogério Tarifa e Verônica Gentilin. Elenco – Fabia Mirassos, Léo Akio, Lucas Bêda, Marcos Felipe, Paloma Dantas, Pedro das Oliveiras, Sandra Modesto e Virginia Iglesias. Direção Musical e Trilha Sonora Original – Carlos Zimbher. Direção Vocal Interpretativa e Composição Musical do Coro – Lucia Gayotto e Natália Nery. Corpo de trabalho (butô) – Marilda Alface. Colaboração Cênica – Luiz André Cherubini. Banda – Daniel Doc (guitarra), Flávio Rubens (clarinete, sax e rabeca), Nath Calan (percussão e bateria), João Sampaio (substituto – guitarra) e Luana Oliveira (substituta – bateria). Pré-produção Musical – Daniel Doc. Figurinos – Juliana Bertolini. Assistente de Figurino – Vi Silva. Costureiras – Celeni Viana, Francisca Lima, Cissa Carvalho e Lucita. Construção Figurino Inflável – Juan Cusicanki. Cenografia – Fábio Lima, Lucas Bêda, Luiz André Cherubini e Zé Valdir. Adereços e Bonecos – Zé Valdir. Operadores de Som – Guilherme Christiano. Contrarregras – Fábio Lima, Mariana Beda e Tony Franthesco. Poesia Gráfica (placas, carrinhos e bandeiras) – Átila Fragozo [Paulestinos]. Treinamento de Perna de Pau – Fábio Siqueira. Fotos – Letícia Godoy, Mariana Beda e Pedro Garcia de Moura. Assessoria de Imprensa – Frederico Paula [Nossa Senhora da Pauta]. Produção Executiva – Gustavo Sanna [Complementar Produções]. Produção Geral – Cia. Mungunzá de Teatro.