A CAIXA Cultural Brasília convida à apreciação do diálogo entre as produções de dois importantes artistas visuais brasileiros – Manuel Messias dos Santos (1945-2001) e Chico Tabibuia (1936-2007) – que viveram à margem da sociedade e do sistema de arte, na exposição: A Quem Traspassaram

Ao longo dos últimos séculos, a escrita da história da arte foi eurocentrada. Como resultado, catalogações hierarquizam e classificaram produções a partir de conceitos restritivos. A partir da necessidade de outros horizontes, os curadores Marcos de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto trazem para Brasília a produção de dois importantes artistas brasileiros que viveram à margem: Manuel Messias dos Santos e Chico Tabibuia está na exposição A Quem Traspassam.

A pergunta que intitula a mostra foi retirada de uma obra da série Via Sacra, produzida por Messias em 1979, e descrita em texto bíblico. Essa frase levanta a reflexão sobre quem estava sendo torturado na crucificação, o homem Jesus ou o próprio Deus. A curadoria se apropriou desse questionamento para pensar como as trajetórias destes dois artistas foram afetadas por questões socioeconômicas e de que maneira suas vivências e criações nos atravessam hoje.

A exposição A Quem Traspassam tem como objetivo levar ao público de Brasília as esculturas de Chico Tabibuia e xilogravuras de Manuel Messias, ampliando o debate sobre a produção artística brasileira. A exposição busca a fundamental democratização do acesso e do direito ao fazer artístico, como parte do Programa de Ocupação dos Espaços da Caixa Cultural 2023-2024.

A mostra abre na CAIXA Cultural Brasília dia 14 de novembro de 2023, onde fica em cartaz na Galeria Vitrine até 28 de janeiro de 2024. Com entrada gratuita, a visitação se dá de terça-feira a domingo, das 9h às 21h, e tem classificação indicativa para maiores de 14 anos.

Na tarde de segunda-feira (13), a partir das 15h, haverá a Experiência em Montagem, visita guiada com os curadores pela galeria ainda em montagem, com o propósito de apresentar a expografia bem como as trajetórias e obras dos artistas.

A Quem Traspassaram
Manuel Messias dos Santos

Os artistas

Francisco Moraes da Silva, conhecido como Chico Tabibuia, teve diversos trabalhos relacionados à madeira ao longo da vida, mas só passou a se dedicar à escultura depois dos 40 anos de idade. Apesar de descender de quatro gerações de marceneiros, Chico é considerado um autodidata, por não ter aprendido o ofício com os parentes. Mesmo assim, o saber introjetado integra sua produção através de uma consciência do uso dos materiais e da experimentação de ferramentas.

Sua inspiração para criar, orbitava entre dois universos: a vivência em um Centro de Umbanda e sua filiação posterior à Igreja Universal do Reino de Deus. Como resposta, Tabibuia criou uma espécie de mitologia, fundada entre o bem e o mal, onde o artista tinha a capacidade de transitar entre esses diferentes fluxos, com aspectos mágico-religiosos que orientavam as formas. A mística de sua criação e as influências de todo processo na vida diária dotam as obras do artista de uma força vital que se manifesta na presença constante de formas fálicas e de vulvas.

Manuel Messias dos Santos nasceu em Sergipe e se estabeleceu nos anos 1950 no Rio de Janeiro. Em 1960, teve contato com a xilogravura, técnica em que desenvolveu a maior parte de suas obras. Além disso, integrou um grupo de artistas que teve a violência da ditadura militar como influência na produção.

No final dos anos 1970, o artista desenvolveu séries complexas de gravuras, marcadas pelo primor técnico e por uma elaboração estética refinada que seguia linhas poéticas e estéticas muito bem estabelecidas, com destaque para a produção dos anos 1970. A década de 90 representa o momento mais crítico de sua vida, quando ele e sua mãe, chegaram a morar nas ruas de Santa Teresa, bairro da classe artística da cidade do Rio de Janeiro.

Deixando de lado as referências populares que a xilogravura inspira, como o cordel, o artista incorporou referências de outras naturezas, como a arte oriental, japonesa e chinesa por exemplo, resultante de sua obsessão em estudar o tema e os artistas. Além disso, uma breve experiência na publicidade, trouxe uma forte influência da estética pop para suas obras.

“Entre estes dois artistas podemos observar trajetórias que encontraram a arte como espaço de sobrevivência. Chico representa uma realidade rural, que se organiza através de tradições do fazer e do contar, cheias de fantasias, misticismos. Já Messias nos mostra as dificuldades e pulsações de uma existência urbana marcada pelo racismo estrutural, pela hierarquização social e pela desigualdade econômica.”, discute a curadoria.

Para os curadores, “colocar vivências tão extremas em contato, provoca a percepção da capacidade de subversão que possuem, tanto por seu conteúdo estético e poético como pelo seu poder e a força da criação como espaço de resistência emocional, espiritual e prática”.

Serviço A Quem Traspassam:

[Artes Visuais] A Quem Traspassam
Local: CAIXA Cultural Brasília | Galeria Vitrine
Endereço: SBS Quadra 4 Lotes 3/4
Visita: Experiência em Montagem, dia 13 de novembro, com os curadores
Abertura: dia 14 de novembro, às 19h, com visita mediada e bate-papo com os curadores
Visitação: de 15 de novembro a de 2023 a 28 de janeiro de 2024
Horário: das 9h às 21h, de terça-feira a domingo
Bilheteria: entrada franca
Classificação: a partir de 14 anos
Acesso para pessoas com deficiência
Patrocínio: CAIXA e Governo Federal